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Olhar Olímpico

Thiago Braz critica CT fechado e técnico avisa: salto com vara pode acabar

Demétrio Vecchioli

27/06/2018 13h00

Thiago Braz em ação; campeão olímpico treina em São Caetano (Kacper Pempel/Reuters)

Prova responsável pelas maiores conquistas do atletismo brasileiro na última década, o salto com vara corre risco no país. Quem avisa é Elson Miranda, marido e ex-treinador de Fabiana Murer. Sabendo que será demitido ao fim do ano e sem local para treinar seus jovens atletas, ele vê um futuro nebuloso não só para o atletismo no Brasil, mas principalmente para o salto com vara.

"Eu tô vendo que a gente pode ter perder tudo que conquistou, voltar anos para trás. Perder ginásio, perder a condição que a gente tinha também. O atletismo continua, mas acredito que o salto com vara é difícil", lamentou Elson, em entrevista ao Olhar Olímpico, no dia seguinte ao resultado que poderia mudar essa história.

Apontada como substituta de Fabiana Murer, Juliana Gomes, de 22 anos, saltou 4,56m em uma competição na Espanha, na terça, e bateu o recorde brasileiro sub-23. Alcançou uma marca que Murer só obteve aos 25 anos, virou a 2ª do ranking nacional de todos os tempos, e mostrou que pode ser a próxima saltadora brasileira. Mas, para isso, ela precisa de apoio.

O CT no qual ela treina, em São Caetano do Sul, vai ser fechado essa semana. Erguido pela antiga BM&F, ao custo de R$ 20 milhões, em um terreno da prefeitura de São Caetano, continuou sendo utilizado por atletas e treinadores, entre eles Elson Miranda, depois que a agora B3 anunciou o fim de sua equipe, no início do ano. Agora, porém, a prefeitura resolveu aproveitar o ginásio para acolher equipes de outras modalidades, especialmente de artes marciais.

Para o salto com vara, mais do que qualquer outra prova, o ginásio é essencial para o treinamento. Afinal, as atividades de treinamento envolvem não só academia, como também treinos em piscina de espuma e em equipamentos de ginástica. Elson deve migrar para o CT Paraolímpico, em São Paulo, mas já sabe que vai perder parte da estrutura. E também seu salário.

A B3 fechou sua equipe, mas não retirou todo o apoio a atletas e técnicos. Elson, que diz que recebia um salário "muito bom", agora ganha metade disso. E já sabe que, a partir de 31 de dezembro, estará desempregado como treinador. Novamente trabalhando como preparador físico, em uma clínica em sociedade com a esposa, diz que não pretende continuar como treinador de alto-rendimento se for para fazer um trabalho "medíocre".

Thiago critica

Atual campeão olímpico no salto com vara e hoje treinando na Itália, Thiago Braz também criticou a situação da modalidade no país ao compartilhar notícia sobre o fechamento do CT em São Caetano.

"Pessoal, que legado olímpico estamos usufruindo no esporte? Estruturas foram feitas somente para as Olimpíadas 2016 no Brasil? Isso significa que não irá ter mais Olimpíadas nos próximos anos para nós brasileiros? E 2020? Vão cobrar resultados dos atletas? Como irão ter resultados sem estrutura para treinar? Qual campeão vamos ter sem estrutura?", questionou o saltador, que teve a maior parte da sua formação no CT da BM&F.

"Fico triste porque eu iniciei em Marília, onde não tem estrutura, fui para Bragança Paulista, onde tem uma estrutura razoavelmente boa, e depois fui para São Caetano, onde treinei cerca de cinco anos, e foi ali que tive uma estrutura melhor. Mas e agora? E os outros atletas, onde irão treinar se desmontar esse centro de treinamento? Já temos poucos centros de treinamento no Brasil. Se compararmos com o atletismo fora do Brasil, estamos bem atrasados em nível de estrutura para treinamento! Vamos acordar Brasil, não se cria em um passe de mágica atletas olímpicos e muito menos medalhistas! Exige trabalho a longo prazo, estrutura e conhecimento! Marque um amigo e vamos juntos nessa luta! Compartilhem essa mensagem e vamos torcer que alguém consciente assuma a causa", completou.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.