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Olhar Olímpico

Oscar tenta defender CBB, mas 'queima o filme' da confederação com estatais

Demétrio Vecchioli

07/06/2018 04h00

Oscar, no exato momento em que aponta o dedo para o representante da Caixa para reclamar que o banco não patrocina a confederação (reprodução/TV Câmera)

A Comissão de Esporte da Câmara dos Deputados fez o possível para servir de cupido. Nesta quarta-feira, por iniciativa do seu presidente, o deputado Alexandre Valle (PR-RJ), reuniu diversas empresas estatais e representantes da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Até os ídolos Oscar e Marcel foram convidados para ajudarem no "match", mas não adiantou. A sensação após uma reunião de quase três horas é de que as poucas promessas ouvidas pela CBB soam mais como: "a gente pode sair para jantar, mas como amigos".

Oscar, é bem verdade, não ajudou muito. Pelo contrário, irritou quem tinha que agradar. Quando teve direito a fala, pegou o microfone, ficou de pé, e se dirigiu onde poderia ficar frente a frente com os diversos representantes das estatais – Caixa, Banco do Brasil, BNDES, Correios, Eletrobras, Petrobras. Com tom de voz agressivo, criticou as empresas por patrocinarem outras modalidades, ou mesmo clubes de futebol, e não o basquete. "O primeiro que mexer no telefone enquanto eu estou falando, vou dar esporro", disse, em tom duro. Com o dedo em riste, criticou o fato de a Caixa apoiar o NBB e não a confederação.

Pegou muito mal. "O tanto que eu levei de dedo (na cara) aqui deixa claro que a verdade toda não foi exposta para ele (Oscar)", reclamou o gerente-executivo da Caixa, Gerson Bordignon, visivelmente contrariado, depois de ouvir um apelo do vice-presidente da CBB, Manoel Castro. Bordignon chegou a explicar que foi pessoalmente ao Rio, no começo do ano passado, para assinar uma carta de intenção de patrocínio à CBB. O documento foi usado pela confederação para convencer a Fiba a retirar a suspensão aplicada ao basquete brasileiro. Deu certo.

O patrocínio, porém, nunca foi efetivado. O representante da Caixa inicialmente culpou a própria confederação, que não teria apresentado as certidões negativas de débitos necessárias. Carlos Fontenelle, CEO da CBB, entrou na discussão para explicar que, na verdade, desde abril a CBB está sem essa certidão, mas na semana que vem irá recuperá-la, já que quitou pendências.

A bola voltou para Bordignon, que deixou claro que havia outros detalhes da negociação que não estavam sendo expostos na audiência pública. Presidente da Comissão, Alexandre Valle questionou sobre um "boato" de que a CBB teria travado as negociações ao se negar a pagar comissão a uma agência. A confederação negou qualquer negociação nesse sentido. Já a Caixa ressaltou que nem pode negociar com intermediários.

Mais perto do fim da audiência, a Caixa expôs o maior dos entraves, com todas as letras: nenhuma das estatais vai patrocinar a CBB enquanto a confederação não retirar o processo que ela tem contra a Eletrobras. A empresa do setor elétrico foi patrocinadora da confederação até 2013, mas cancelou seu último contrato após apontar uma série de irregularidades na gestão dos recursos. Depois disso, elas se processaram mutuamente.

A CBB tentou se defender. Disse que ofereceu espaço gratuito à Eletrobras, para resolver a pendência, mas que a estatal não se interessou. A Eletrobras não se pronunciou depois disso, ficou na dela. No fim das contas, a CBB ganhou uma promessa de reunião a portas fechadas com a Caixa: "a gente faz outra reunião, que tira da discussão aqui", disse Bordignon, antes de avisar para a confederação não se animar. "É um ano muito complicado para as estatais, tem lei eleitoral, tem limites".

Atualmente a CBB trata três empresas como "patrocinadoras": a Nike, que tem contrato já há alguns anos, a BDO, empresa de consultoria que vem auxiliando a administração, e a Motorola, que ajuda na construção de um centro de treinamento em Campinas. Desde o ano passado a confederação vem se mantendo graças a consecutivos aportes do seu presidente, Guy Peixoto, empresário do ramo de logística – em sua fala, Oscar elogiou o dirigente por ser dono de uma frota de mais de mil caminhões.

Guy inclusive montou, na confederação, uma estrutura com executivos de renome no mercado, que teriam aceitado trabalhar para a confederação diante da promessa de, com um futuro patrocínio, serem remunerados à altura. Até 2016, o Bradesco pagava menos de R$ 10 milhões para ser o patrocinador máster da confederação. Desde então, a CBB teve seu nome envolvido em diversos escândalos, a seleção masculina ficou fora do Pan e a feminina fora do Mundial. Agora, quer receber ao menos R$ 15 milhões ano ano. "Vejo números que são irrisórios para a grandeza das instituições que estamos vendo aqui. O que são R$ 74 milhões para as estatais?", questionou o ex-jogador Marcel.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.