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Olhar Olímpico

Tifanny admite tentar a Câmara e fala sobre namoro que começou no Tinder

Demétrio Vecchioli

05/06/2018 04h00

Um semestre inteiro se passou desde que Tifanny Abreu foi contratada pelo Vôlei Bauru e se tornou a primeira jogadora transexual a disputar a Superliga Feminina de Vôlei. Na linha de frente da trincheira pela inclusão das pessoas transexuais no esporte e na sociedade, em seis meses ganhou o respeito e a torcida da comunidade LGBT.

Tornou-se famosa e o símbolo de um debate. Com o novo papel vieram responsabilidades, jogadas sobre suas costas. A atacante de 33 anos sabe das cobranças, diz estar à disposição para ajudar, mas não se considera uma militante.

"Eu não posso falar que sou militante. Sou uma pessoa de coração aberto para ajudar a todos. Quando você é militante, você não pode ficar só no vôlei, ou só na política, precisa ficar em cima, batalhando, e eu não tenho tempo para fazer isso. Mas sempre que posso dar uma palavra de apoio e pedir ajuda estou lá para estar ajudando", disse Tifanny, em entrevista exclusiva ao Olhar Olímpico.

A citação à "política" é porque Tifanny filiou-se recentemente ao MDB de São Paulo, mesmo partido do presidente Michel Temer, e foi convidada a ser candidata a deputada federal, em chapa que deverá ser encabeçada por Paulo Skaf, pré-candidato a governador e presidente do Sesi-SP, agora seu clube.

Se considerar que é possível conciliar a carreira de atleta com uma cadeira na Câmara dos Deputados, Tifanny lançará seu nome na urna.

"Nós temos que nos juntar, porque se não formos atrás ninguém vai por nós", avalia a jogadora, que promete avaliar "nos próximos dias" se sairá candidata. "Talvez sim, talvez não. Tudo vai depender do que vai acontecer nos próximos dias. Sempre tem alguém querendo me derrubar, sempre tem alguém tentando fazer algo contra o transexual. Então talvez seja bom eu poder ajudar as próximas que entrarem nesse meio (do esporte)."

Na segunda-feira, Tifanny foi uma das estrelas do lançamento da equipe feminina do Sesi/Vôlei Bauru, uma fusão entre dois times que disputaram a última Superliga. O evento aconteceu no teatro do Sesi, na avenida Paulista, de onde saiu a Parada Gay no domingo. Tifanny esteve lá, em seu primeiro compromisso depois de passar as férias na Europa.

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"Queria ter vindo no dia do orgulho das trans (sexta), mas foi no dia que estava chegando de viagem. Quero até pedir desculpas. É nossa classe e tenho que estar presente", reconhece Tifanny, que diz estar cada vez mais envolvida com o movimento trans.

Namoro

As férias na Europa foram ao lado do namorado. Alex é um alemão que mora em Stuttgart e é fisiculturista. O casal, que está junto há cerca de seis meses, foi formado como tantos outros pelo mundo à fora: por uma rede social. Mais especificamente pelo Tinder.

"Deu match quando eu morava lá (na Europa). A gente se falou bastante até namorar. Ele nem sabia que eu era famosa, para ele isso não é importante. Ele gosta de mim como pessoa, como mulher, ser famosa ou não, isso não faz diferença", contou Tifanny, que antes de jogar em Bauru estava na Bélgica.

Sem atuar há cerca de dois meses e meio, a jogadora aproveitou o fato de não ter sido convocada para a seleção brasileira (leia mais aqui) para passar por uma cirurgia na Espanha. "Fiz uma pequena feminilização na parte óssea da minha testa, e também uma rino, que eu não estava respirando tão bem. Agora posso respirar melhor, vai me ajudar bastante".

Durante as férias, com mais tempo livre para a vida social, sentiu um pouco da fama. "Estava com meu namorado de férias e as pessoas vinham, pediam foto, conversavam. Sou muito tranquila, dou atenção a todos, fico feliz que me reconheçam e me apoiem sempre."

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.