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Olhar Olímpico

Pelé volta a desmarcar depoimento em processo contra Nuzman

Demétrio Vecchioli

29/05/2018 17h54

Pelé e Nuzman, em evento da candidatura (Foto: Jorge Araújo/Folha Imagem)

Com Samir Carvalho

Pelé deveria comparecer a um Fórum de Santos nesta terça-feira para depor ao juiz Marcelo Brettas em processo que investiga a suposta compra de votos africanos para que o Rio viesse a ser sede da Olimpíada de 2016. O Rei do Futebol, porém, mais uma vez alegou questões de saúde para solicitar que o depoimento fosse adiado, o que já havia acontecido há duas semanas. O ex-jogador foi arrolado como testemunha de defesa de Carlos Arthur Nuznam, ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Inicialmente, o depoimento estava marcado para acontecer no último dia 14, sendo adiado a pedido do advogado do craque, que alegou problemas de saúde para não comparecer a um fórum de Santos, onde mora. Aos 77 anos, Pelé tem evitado cada vez mais aparições públicas e viagens desgastantes. Assim, a audiência, por videoconferência, foi remarcada para acontecer nesta terça.

Até segunda-feira, a defesa de Nuzman acreditava que Pelé deporia às 13h desta terça. Mas mais uma vez o ex-jogador pediu para adiar o depoimento, sob alegação que precisava passar por uma sessão de fisioterapia. Além disso, o desabastecimento devido à greve dos caminhoneiros também teria sido alegada pela defesa do craque. Agora, uma nova data deverá ser agendada.

A reportagem do UOL Esporte apurou que Pelé não demonstra disposição em depor e se envolver nas investigações. Ele esteve nas viagens para a África nas quais teriam ocorrido as negociações para a compra de votos. A defesa de Nuzman acredita que o jogador pode confirmar que não viu nada suspeito.

Além dele, também foram arrolados diversos funcionários e ex-funcionários do COB, do Comitê Rio-2016 e do comitê de campanha, além do deputado estadual Carlos Roberto Osório (PSDB), que trabalhou ativamente na campanha do Rio antes de ser eleito para a Alerj.

Há duas semanas chegaram ao fim os depoimentos das testemunhas arroladas pela acusação – ou seja, pelo Ministério Público Federal. O último a depor foi Eric Maleson, dirigente que foi afastado pela Justiça da presidência da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) por uma série de irregularidades, foi morar no exterior, e voltou a ter visibilidade por ter sido o responsável por revelar à Justiça da França ter ouvido uma conversa sobre suposta compra de votos.

A partir daí, a investigação francesa passou a mirar a candidatura brasileira para os Jogos de 2016, trabalhando em cooperação com o MPF brasileiro. Em outubro, a Polícia Federal deflagrou a operação Unfair Play e prendeu Nuzman provisoriamente. Depois, o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Rio-2016 tornou-se réu do processo relativo à suposta compra de votos africanos.

A propina supostamente paga ao senegalês Lamine Diack teria comprado quatro votos, de acordo com relato do Carlos Emanuel Miranda, delator da Lava-Jato e apontado como o gerente da propina do ex-governador Sérgio Cabral (MDB). Reportagem da Folha de S. Paulo revelou que, em seu depoimento, Miranda contou ter ouvido esse relato dentro da cadeia.

"Recentemente, na prisão, cerca de dois ou três meses atrás, Sérgio Cabral comentou com o colaborador [Miranda] que Arthur [César de Meneses Soares Filho], de fato, teria feito pagamentos a dirigentes africanos ligados ao setor de atletismo para a compra de quatro votos, salvo engano", diz a transcrição do depoimento de Miranda, dado em abril do ano passado, segundo a reportagem da Folha. A delação de Miranda só foi homologada no início deste ano pelo ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal). Ao jornal, um dos advogados de Nuzman,  João Francisco Neto, afirmou que a delação de Miranda é "conversa de cadeia" e, por isso, não tem valor para incriminar o ex-mandatário do COB.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.