Topo

Olhar Olímpico

Técnico nega acusações, cita vingança e diz que ginastas treinavam chorando

Demétrio Vecchioli

16/05/2018 15h32

(Reprodução/TV Senado)

Em depoimento ao CPI dos Maus-Tratos, nesta quarta-feira, no Senado, o técnico Fernando de Carvalho Lopes negou todas as acusações feitas por ginastas contra ele. Presidente da comissão, o senador Magno Malta (PR-ES) apresentou reservadamente ao treinador os relatos dos ginastas, dados em segredo de Justiça na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de São Bernardo do Campo, e questionou, um por um, se Fernando confirmava as denúncias, registradas em papeis.

Em todos os casos, Fernando confirmou que conhecia as supostas vítimas, mas disse que negava o conteúdo dos relatos. Na visão do treinador, as denúncias são frutos de vingança. "Sou pai. Sou o primeiro a falar que sou contra tudo isso. Eu também correria atrás de todos os direitos possíveis para os meus filhos. No volume que é colocado, sobre mim, da forma que são feitas as falas e acusações, não vejo outra coisa que não seja vingança", afirmou, dizendo que acredita em "indução de formação de opinião, principalmente de quem é mais novo".

Especificamente, ele também negou que tomasse banho de banheira com os ginastas, que dormisse na mesma cama que os atletas e que pedisse para olhar o órgão genital deles ou para ver o crescimento dos pelos pubianos. Também negou que acredita que ser necessário observar as genitais dos atletas para determinar o tipo de treino deles.

Fernando bateu na tecla de que, durante os 20 anos em que trabalhou como treinador do Mesc, clube social de São Bernardo do Campo, onde teriam ocorrido os abusos, criou "muitos inimigos" por ser um técnico "bastante rígido".

"Causei mais descontentamentos que satisfações. Nunca fui um técnico manso. Pelo contrário: fui extremamente rígido. Eles (atletas) treinavam muitas vezes chorando. Criei muitos inimigos. Cortei bolsas de estudos de atletas, demiti auxiliares técnicos, prejudicando as pessoas que não seguiam a minha linha de trabalho. Nesse caminho acabei criando sim muitas desavenças", afirmou. "Não tenho culpa nenhuma em assédio sexual. Sou bravo, falava palavrão, mas assédio sexual, não".

Logo no início da reunião, o advogado Luis Ricardo Davanzo, que defende Fernando, pediu que o depoimento ocorresse a portas fechadas, uma vez que a investigação em São Bernardo do Campo corre em segredo de Justiça. "Ele tem interesse em falar, quer ver aclarada essa situação, tem interesse em prestar sua versão dos fatos, mas gostaria que fosse a portas fechadas", solicitou a defesa de Fernando. Magno Malta, porém, rejeitou o pedido.

O tema voltou à pauta depois de Fernando dizer apenas que "negava" cada acusação. O presidente da CPI perguntou ao treinador se, caso a sessão ocorresse a portas fechadas, ele falaria mais do que disse a portas abertas. "Sobre esse tema, não", afirmou o técnico, visivelmente constrangido.

Antes, em sua primeira fala, Fernando relacionou as denúncias ao fato de, em 2016, ele estar brigando por uma vaga de técnico da seleção nos Jogos do Rio. "Quando tem um momento pertinente, eu sou colocado em xeque. Havia uma disputa, onde tinham cinco treinadores para três vagas, para participar dos Jogos Olímpicos. Aí surgiu. Depois, no momento em que tem uma situação do médico dos EUA, se resgata esse tipo de assunto. Vivo essa vida há dois anos", disse o treinador. "Alguém precisava cair. Cada treinador tinha um ginasta com chances de ganhar medalha olímpico", completou depois, revelando que sentia que havia técnicos com interesse em derrubá-lo.

Em julho de 2016, ele foi afastado da seleção brasileira, que treinava em São Bernardo para a Rio-2016, um mês depois as famílias de dois ginastas menores de idade procurarem o Ministério Público para denunciar Fernando.

Confira outras respostas de Fernando:

Tomava banho junto?

"O clube tem um vestiário. Não trabalhava só no clube, mas em outros locais. Algumas vezes, sim, entrei no vestiário para tomar meu banho. Acesso ao vestiário eu tinha".

Dormia junto na mesma cama?

"Não"

Por que acredita que foi denunciado?

"Essa é uma pergunta que eu me faço, também. Por que alguém coloca sua imagem para prejudicar alguém inocente. não sei, também".

Olhava as partes íntimas?

"Não"

Pedir para ver o crescimento de pelos pubianos

"Com os ginastas mais velhos com os mais novos era feito esse tipo de brincadeira. Eu participei algumas vezes dessa brincadeira, mas nunca só eu e o atleta".

O desenvolvimento do órgão genital tem a ver com o tipo de treino que vai ser passado para ele?

"Não"

O fato de os shorts apertarem o órgão genital causa prejuízo ao movimento?

"Não"

Já ajustou o shorts de um atleta?

"Não"

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.