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Olhar Olímpico

COB retoma investimento e país volta a ter mais de 50 técnicos estrangeiros

Demétrio Vecchioli

16/05/2018 04h00

Trabalho de Morlan no Brasil rendeu três pódios ao país na Rio-16 (Zanone fraissat/Folhapress)

Passados os Jogos do Rio, a sensação era de que o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e as confederações olímpicas davam passos atrás na política de contratação de técnicos estrangeiros. Agora que começa para valer o ciclo de Tóquio-2020, o país volta ao cenário que existia antes da Rio-2016. Já são novamente mais de 50 treinadores de outros países contratados pelo COB ou pelas confederações. E a tendência é esse número aumentar.

Um levantamento feito na semana passada por Jorge Bichara, novo diretor de Esporte do COB,  encontrou 52 treinadores estrangeiros ligados a confederações e ao comitê, que emprega três deles em regime integral e outros 14 em outros modelos de contratação. Esse número já se aproxima dos 55 técnicos gringos que, nas contas do COB, atuaram no país em algum momento do ciclo olímpico passado.

"Alguns deram certo, outros não. Isso é do jogo. Quando acabou a Olimpíada, a gente ficou aguardando como o cenário ia se estabelecer, mas mantivemos alguns ainda com a gente. Sentamos com as confederações, conversamos sobre os projetos que estavam já estabelecidos, algumas iam mudar de presidente. Quem já estava estabelecido, a gente manteve o que vinha dando certo, como no judô e na canoagem", conta.

Ele dá exemplo: "O Jesus (Morlán, da canoagem), queria ficar. Estava tudo estabelecido, funcionando, demos continuidade como um projeto normal. O Ratko Rudic (do polo aquático) também tinha interesse, mas sentei com ele e falei que naquele momento não ia dar para pagar e ele seguiu a vida", continua Bichara, que atuava como gerente-geral de Performance Esportiva, foi promovido a diretor de Esporte, mas vai continuar cuidando da área.

Outros projetos foram mantidos pelo COB e pelas confederações, como do tênis de mesa, que manteve o francês Jean-René Mounie e o cubano Francisco Arado, chegando às quartas de final do Mundial por Equipes este mês. Em outros casos houve troca. No handebol, o espanhol Jorge Dueñas substituiu o dinamarquês Morten Soubak. No basquete, Rubén Magnano não renovou e deu lugar ao croata Aleksandar Petrovic.

O caso de Magnano, aliás, é exemplar. O argentino ganhava cerca de R$ 130 mil mensais, valor que deveria ser arcado em parte pelo COB e, em parte, pela Confederação Brasileira de Basquete (CBB), com recursos da Eletrobras. Quando o patrocínio chegou ao fim, o COB passou a arcar sozinho com os rendimentos. Agora, esse tipo de investimento está fora de cogitação.

"Há sempre o risco de acontecerem situações assim, mas hoje em dia ele é bem mais baixo pelo cenário econômico. Temos que ser muito criteriosos por conta da atual capacidade do COB de entrar em parcerias desse nível, desse montante. Hoje a situação de incerteza não só no nível esportivo, mas econômico mundial, impede de a gente faça grandes passos", aponta Bichara.

O diretor do COB, porém, nega que a contratação de técnicos estrangeiros seja um política. O comitê quer técnicos bons. "A gente nunca falou que ia buscar treinadores estrangeiros. Era treinador bom. Isso que a gente sempre procurou. Eu não faço distinção. O treinador de nível, brasileiro, ele já conhece os hábitos, conhece nossas particularidades, nosso dia-dia. É mais fácil. O estrangeiro precisa entender bem o que é ser brasileiro e trabalhar com esporte no Brasil. Em nenhum momento a gente falou que era um foco."

Investimentos

Em um movimento natural, algumas modalidades demonstram mais possibilidades de bons resultados hoje do que no ciclo olímpico passado. E também é natural que o comitê identifique isso e concentre esforços. Um desses casos é Ygor Coelho, do badminton, que recebe apoio do COB para passar a morar na Dinamarca, onde será treinado por Nadia Lyduch, sua treinadora pessoal desde fevereiro.

Com Priscilla Carnaval no Top10 do ranking mundial do ciclismo BMX, o COB garantiu a contratação francês Thomas Allier, bicampeão mundial (1998-2000) e considerado um dos melhores treinadores da atualidade, para trabalhar com a seleção.

Na natação, o COB estuda como apoiar Bruno Fratus para que ele continue sendo treinado pelo australiano Brett Hawke, que recentemente pediu demissão do cargo de técnico da Universidade de Auburn para trabalhar apenas com uma pequena equipe de alto-rendimento.

Essa situação é um exemplo do trabalho de customização feito pelo COB. Fratus tem um clube no Brasil (o Minas Tênis Clube), mas prefere treinar nos Estados Unidos, com um treinador que o levou a se tornar um dos melhores e mais regulares nadadores do mundo. Enquanto isso, Pedro Spajari e Gabriel Santos, do Pinheiros, têm um treinador pago pelo clube (Albertinho) e toda uma infraestrutura. Para eles, o apoio deverá ser em forma de mais viagens internacionais, que hoje é a maior demanda deles.

"A gente está discutindo com o Renato Cordani (da CBDA) as ações que a gente vai desenvolver. Diante dos resultados dos 100m livre, você coloca a prova num patamar de observação. E para cada um você tem que olhar como um projeto. O Brett é um treinador que nos interessa que faça um trabalho específico com ele. Com o Albertinho eu conversei e a maior necessidade é de participar de competições internacionais, para toda a equipe de revezamento", explica.

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.