Ginastas irão à Justiça para pedir indenização em caso de abuso sexual
Ao menos três ginastas que acusam o técnico Fernando de Carvalho Lopes de abuso sexual deverão procurar a Justiça para pedir indenizações. A tendência é que o número de interessados no processo suba nos próximos dias, uma vez que outras sete supostas vítimas já conversam com o escritório de advocacia CSMV Advogados. Não apenas o treinador deve ser acusado, mas também clubes, federações, COB e prefeitura de São Bernardo do Campo podem se tornar réus no processo.
André Sica, sócio da CSMV Advogados, é o responsável pelo atendimento dos ginastas nas esferas desportiva e cível. Ele trabalha em parceria com Cristiane Battaglia, advogada criminal da Battaglia & Vidilli, que vem auxiliando as famílias e os atletas que relataram casos de abuso de Fernando à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de São Bernardo do Campo, onde o caso corre em Segredo de Justiça desde junho de 2016.
Ainda nesta quarta-feira, ou no mais tardar na quinta, Sica vai entrar com um pedido de instauração de inquérito no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da modalidade, pedindo que Fernando seja banido do esporte. Pelo que determina o regimento, a presidente do tribunal, Renata Quadros, deve apontar um auditor para convocar o treinador, as vítimas e outras pessoas envolvidas e elaborar um relatório.
Todo esse processo deve levar, pelo que determina o regimento, cerca de 90 dias. Sica acredita que, até antes disso, o Ministério Público de São Bernardo deve receber o relatório da delegada Tereza Gurian, que cuida do caso na DDM, e acusar o treinador de abuso sexual. Depois de juntadas as provas nas esferas criminal ou com uma possível decisão contrária a Fernando na esfera desportiva, aí sim será aberto o processo cível.
"No desportivo e no criminal, as penas incorrem sobre a pessoa do infrator. No cível, podem ser amplificadas a partir não só de quem cometeu, mas também de quem se omitiu. A omissão também é um ato ilícito. Você deixar de fazer algo que deveria ter feito é um ato ilícito, passível de punição", ressaltou Sica, em conversa com o Olhar Olímpico.
Questionado pelo blog sobre quem pode ter sido omisso e, consequentemente, ser acusado junto com Fernando, o advogado citou o Mesc, clube no qual Fernando trabalhava até o dia seguinte à reportagem do Fantástico, a Federação Paulista de Ginástica, a Confederação Brasileira de Ginástica, o Comitê Olímpico do Brasil e a prefeitura de São Bernardo do Campo.
"A gente não pode ser leviano de dizer que todos eles são culpados. Mas, dependendo do que for apurado, qualquer um pode ser foco", apontou o advogado, que preferiu não dizer quem são os três atletas para os quais ele trabalha.
Já Cristiane Battaglia atua na esfera criminal apenas desde a semana passada, defendendo dois menores de idade e um adulto que também não podem ser identificados. "Eu sou assistente de acusação, assistindo o MP e a delegada. O que estou fazendo é proteger a vítima, como pedir que elas sejam ouvidas sob sigilo. Também é meu papel apontar alguma prova que não foi solicitada, requerer perícia", explica, dizendo que está à disposição de outras vítimas. "Estou aqui para ajudar, seja para atuar como assistente de acusação ou para tirar dúvida."
Advogado de defesa de Fernando, Luis Ricardo Davanzo não respondeu as mensagens enviadas pela reportagem.
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