Levantamento de peso pede suspensão de principais atletas por boicote
A Confederação Brasileira de Levantamento de Peso deu o troco nos atletas que iniciaram uma rebelião contra os critérios e a forma de gestão da entidade. Pediu e conseguiu que a procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) da modalidade denunciasse oito dos principais atletas do país, solicitando inclusive uma suspensão preventiva. Ao mesmo tempo, foi realizada a inscrição para o Campeonato Pan-Americano, beneficiando inclusive um atleta colombiano William Alvarado, que é treinado pelo novo técnico da seleção e recentemente se naturalizou brasileiro.
Em março, o Olhar Olímpico explicou toda a polêmica na qual está metida a modalidade. De um lado estão o presidente Enrique Dias e as federações que o apoiam: Paraná, Paraíba, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Do outro, os principais atletas do país, que estão baseados no Pinheiros, em São Paulo, e na Marinha, no Rio.
Incomodados com os critérios de convocação para o Pan, que beneficiariam duas atletas ligadas a Enrique, com a falta de transparência na entidade e com a contratação de um técnico colombiano, um grupo de atletas boicotou a seletiva do Pan à espera de Enrique, que se comprometeu a ir à competição, mas não apareceu por lá. De acordo com a confederação, seis atletas teriam mostrado disposição de competir – exatamente das seis federações aliadas a Enrique.
Agora, seriam exatamente esses seis os convocados para o Pan, junto com Fernando Saraiva, que durante o boicote não participou ativamente do movimento, mas também não se opôs. "Seriam" porque, ainda que o torneio comece no sábado, ainda não existe uma convocação da CBLP, apenas a divulgação, por parte da federação pan-americana, da lista de inscritos.
Além de Fernando, favorito ao título entre os pesados, vão competir em Santo Domingo (República Dominicana): William Alvarado (13º do ranking de inscritos da categoria), Rafael Fernandes (13º), Mayara Soares (18ª), Liliane Menezes (12ª) e Jaqueline Ferreira (15ª). Para Serafim Veli consta como índice de inscrição uma marca muito acima do melhor resultado dele.
Ou seja: a equipe que vai para o Pan, evento classificatória para os Jogos Pan-Americanos, será formada por um atletas que tendem a não conseguir chegar perto do pódio. Inicialmente, o critério de convocação, questionado por um grupo de opositores, era que o índice necessário era o equivalente ao quinto lugar no evento passado.
Suspensão
Mas, agora, os melhores do país (exceto Fernando) correm risco de serem suspensos. Mais de um mês depois do boicote, o assessor jurídico da CBLP, Marcelo Jucá, pediu que a procuradoria do STJD denunciasse os atletas por conta do boicote, tratado pela confederação como "um ato de represália e rebeldia, atitude totalmente antidesportiva, não havendo justificativa para tal".
Na última quinta-feira, a procuradora Gabriela Morás Schiewe fez a denúncia, pedindo a suspensão preventiva e enquadrando os oito atletas em dois artigos do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que no total somam R$ 200 mil em multas máximas e até 360 dias de suspensão.
Já na sexta-feira foi marcado um julgamento, que vai acontecer na quarta-feira, em Florianópolis, ainda que todos os atletas sejam do Rio ou de São Paulo. Os acusados são Rosane Reis (quinto lugar na Olimpíada e campeã do Pan no ano passado), Mateus Gregório (bronze no Pan e prata nos Jogos Pan-Americanos de 2015), Marco Machado (prata no Pan), Rogério Almeida (prata no Pan), Bruna Piloto (bronze nos Jogos Pan-Americanos), Letícia Moraes, Renan Fernandes e Josué Lucas (presidente da comissão de atletas).
Procurado, Josué disse que foi orientado pela advogada da comissão a não comentar, mas afirmou que a denúncia é surpresa para os atletas. "Nunca imaginávamos que seríamos colocados em tal situação", comentou.
Já o presidente da CBLP apenas comentou que "A confederação informou o ocorrido, através de seu departamento jurídico ao STJD. Dai, a procuradoria do STJD, entendeu que ocorreu infração disciplinar e ofereceu denúncia contra os atletas". A reportagem em seguida destacou que, mais do que informar o ocorrido, a confederação solicitou que os atletas fossem denunciados e questionou por que. Em resposta, ele enviou o mesmo texto.
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