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Olhar Olímpico

CBV foge da regra e Superliga não tem política de controle antidoping

Demétrio Vecchioli

05/05/2018 04h00

(Gaspar Nóbrega/Inovador/CBV)

Considerada uma das principais ligas nacionais de vôlei do mundo e um dos torneios mais bem estruturados do Brasil, a Superliga de Vôlei não tem uma política de controle de doping. Na final da competição masculina entre Cruzeiro e Sesi-SP, por exemplo, neste domingo, em Belo Horizonte, só serão realizados exames caso a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) resolver, por conta própria, chegar de surpresa.

Organizadora da competição, a Confederação Brasileira de Vôlei argumenta que "a ABCD é a entidade mais competente para realizar este tipo de procedimento" e cita o fato de que, se algum atleta for flagrado com substância proibida em seu organismo, ele já é julgado diretamente pelo Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem. "Por estes motivos é que a CBV julga melhor deixar o controle sob o comando da própria ABCD", diz a CBV.

O argumento não se sustenta. A falta de uma política de controle antidoping vem de anos, ainda que o TJDA tenha sido instaurado apenas em maio do ano passado. Caso um atleta tivesse sido flagrado na competição da temporada 2016/2017, por exemplo, caberia ao STJD do Vôlei julgá-lo.

Além disso, outras ligas e confederações têm sua própria política antidoping, independentes da ABCD. A Liga Nacional de Basquete (LNB), por exemplo, realizou 27 exames antidoping durante o ano de 2016, como mostra relatório divulgado pela Agência Mundial Antidopign (Wada) na semana passada. Isso não impediu, porém, que a ABCD também fizesse um controle paralelo, com 31 exames. Na soma das duas entidades, o Brasil foi só o 24º país que mais testou no basquete em 2016.

No futebol, a CBF tem um dos mais reconhecidos programas antidoping do mundo. Só em 2016 foram feitos mais de 4,7 mil exames, contra 3,3 mil da Uefa e 2,7 mil dos britânicos, segundos colocados no ranking por países.

Já no vôlei o país que faturou duas medalhas de ouro na última Olimpíada é apenas o 15º que mais realiza exames antidoping. Sem a colaboração da CBV, a ABCD foi responsável, em 2016, por todos os 62 exames feitos no país, contando também o vôlei de praia. A Itália, que também tem ligas fortes, fez 324, suspendendo seis atletas. A Turquia testou os jogadores locais 111 vezes. Mesmo nações sem tanta tradição na modalidade, como Tailândia e Finlândia, fizeram mais exames.

De acordo com a CBV, na fase semifinal da Superliga e após a decisão feminina deste ano houve colheita de exames por parte da ABCD. No restante da competição, não. No futebol, o controle custa R$ 4,9 mil por jogo, bancado pelos clubes. No basquete, a LNB tem um orçamento específico para esses testes, que ocorrem com mais regularidade nos playoffs, ainda que todos os clubes tenham sido testados ao menos uma vez na fase de grupos.

Submeter menos os atletas menos vezes a exames antidoping gera como consequência natural menos risco de suspensões por doping. No ano passado, o único caso positivo no vôlei brasileiro foi de Murilo Endres, testado de surpresa entre, em casa, durante o período das semifinais. O teste foi conduzido pela federação internacional, a FIVB.

Desde 2009, a FIVB contabiliza 71 punições por doping no vôlei, das quais 47 delas foram aplicadas por entidades nacionais. Três atletas são brasileiros, dos quais dois foram flagrados enquanto atuavam em clubes do exterior. A outra foi a ponteira Natália, flagrada durante a semifinal da Superliga, em 2013, e suspensa por três meses.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.