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'Geração 2020' supera veteranos e rejuvenesce seleção de natação em 8 anos

Demétrio Vecchioli

23/04/2018 04h00

Seleção que vai ao Pan-Pac (Satiro Sodré/SSPress/CBDA)

Em um ano, a seleção brasileira de natação rejuvenesceu mais de oito. Se durante todo fracassado ciclo da Rio-2016 o time foi basicamente formado por veteranos, que não conseguiram entregar medalhas olímpica, neste início de corrida por Tóquio-2020 quem manda já são os garotos. Dos 16 convocados para o Pan-Pacífico, principal competição da temporada, nove são jovens de 21 anos ou menos. Ou seja: eles já são maioria no time do Brasil, finalmente rejuvenescido. Na comparação com o time do Mundial de Budapeste, no ano passado, os nove novatos são, em média, 8,8 anos mais novos dos que os que perderam lugar.

A equipe do Pan-Pacífico será formada pela elite da natação brasileira, a partir de resultados do Troféu Brasil (antigo Maria Lenk). Se na Rio-2016 o time teve 32 nomes, atendendo uma estratégia do COB de ocupar todas as vagas possíveis, no Pan-Pac, a equipe terá apenas 16 nomes. Já havia sido exatamente assim em Budapeste, quando o time teve só três jovens: Gabriel Santos (nascido em 1996), Brandonn Almeida (1997) e Guilherme Costa (1998).

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É que, até o ano passado, o Brasil ainda vivia às custas de uma geração que brilhou no Mundial de 2009. Cesar Cielo, Guilherme Guido, Felipe França, Thiago Pereira, João Luiz Gomes Jr e Nicholas Santos: todos foram finalistas no Mundial de nove anos atrás e seguiam na seleção até o ano passado ou retrasado. Para o Pan-Pacífico, dessa turma, só vai João de 32 anos, e porque ele conseguiu a última das 16 vagas.

No ano passado, o Olhar Olímpico chegou a mostrar que o time tinha os atletas mais velhos do Mundial. A partir de critérios de classificação muito parecidos – a única diferença é que desta vez não há espaço para abrir uma exceção e convocar Nicholas pelo seu resultado em uma prova não olímpica -, a seleção mudou completamente de cara. Nos 100m costas, por exemplo, Guido foi superado por Gabriel Fantoni (1998), que é 11 anos mais novo que ele. Nos 50m livre deu Pedro Spajari (1997) na vaga que ano passado foi de Cesar Cielo.

Turma boa

Boa parte dos novatos chega já sonhando em brigar por medalhas no Pan-Pacífico, depois de bons resultados no Troféu Brasil. Spajari, por exemplo, é segundo no ranking mundial dos 100m livre e quinto nos 50m livre. Vinicius Lanza (1997) é quarto nos 100m borboleta e nono nos 200m medley. Mesmo o revezamento 4x100m livre, vice-campeão mundial no ano passado, mudou de cara: saíram Fratus e Cielo, entraram Marco Antonio Ferreira e Spajari, ambos 10 anos mais novos que seus antecessores. E a soma dos resultados individuais do time no Troféu Brasil é 1s87 mais rápido dos que o do Maria Lenk do ano passado. Ou seja: há um ganho expressivo de qualidade.

Entre as mulheres, Joanna Maranhão (1987) e Etiene Medeiros (1991) não participaram do Troféu Brasil, mas em tese continuam sendo concorrentes fortes por vagas em Tóquio-2020. Para o Pan-Pac, também na capital japonesa, vão as velocistas Lorrane Oliveira (1993) e Larissa Oliveira (1993). Só aí a média de idade cai quatro anos. (sobre a convocação feminina, leia aqui)

Outro nome que chega à seleção com grandes expectativas é Fernando Scheffer (1998), que bateu os recordes sul-americanos nos 200m e nos 400m livre. Na seleção, ocupa uma vaga que vinha sendo de João de Lucca (1990). No Troféu Brasil, aliás, João foi só terceiro, atrás também de Breno Correia (1999), que flertou com a vaga, mas não vai ao Pan-Pacífico.

Nas provas de fundo, o Brasil segue vendo a evolução de Guilherme Costa (1998), que bateu mais uma vez o recorde sul-americano dos 800m livre, enquanto Brandonn Pierry (1997), ainda que não tenha feitou um bom Troféu Brasil, ao menos se garantiu no Pan-Pac nos 400m medley – uma vez convocado, ele poderá nadar também outras provas.

Mesmo em provas nas quais o Brasil não tem grandes resultados, especialmente as de 200m estilos, o Troféu Brasil mostrou renovação. Leo de Deus (1991) continua o melhor do país nos 200m borboleta (ele foi prata no Pan-Pac de 2014), mas agora vê a concorrência de Luiz Altamir (1996), também convocado. Nos 200m peito, Caio Pumputis (1999) não conseguiu vaga, mas venceu. Leonardo Santos (1995) foi segundo nos 200m e vai estrear em seleções.

Hoje, só uma prova olímpica brasileira continua dominada pela velha geração: os 100m peito. E, mesmo assim, em decadência. João Luiz Gomes Jr até vai ao Pan-Pac, mas com a última das 16 vagas. Como comparação, no Maria Lenk de 2016, o Brasil teve seis atletas nadando abaixo de 1min01s. Em 2018, só três. E Pedro Cardona (1995), terceiro em 2016 e 2017, e que tinha tudo para superar os veteranos a partir deste ano, caiu de desempenho e foi só o quarto.

Compare as convocações do Mundial de 2017 e do Pan-Pac 2018 (comparação por idade, não por prova)

Thiago Simon (1990) por Fernando Scheffer (1998)

Nicholas Santos (1980) por Vinicius Lanza (1997)

Guilherme Guido (1987) por Gabriel Fantoni (1998)

Joanna Maranhão (1987) por Lorrane Ferreira (1993)

Manuella Lyrio (1989) por Larissa Oliveira (1993)

Henrique Martins (1991) por Leonardo Souza (1995)

Cesar Cielo (1987) por Pedro Spajari (1997)

Felipe Lima (1985) por Marco Antonio Junior (1999)

Etiene Medeiros (1991) por Luiz Altamir (1997)

Marcelo Chierighini (1991, repete)

Bruno Fratus (1989, repete)

Leonardo de Deus (1991, repete)

Gabriel Santos (1998, repete)

João Gomes Júnior (1986, repete)

Guilherme Costa (1998, repete)

Brandonn Almeida (1997, repete)

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.