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Olhar Olímpico

Record chama Jade de "atleta em decadência" e é condenada a pagar R$ 20 mil

Demétrio Vecchioli

19/04/2018 12h39

(reprodução/Instagram)

No sábado passado, competindo contra boa parte das principais equipes do mundo, Jade Barbosa, de 26 anos, foi sexta colocada no individual geral do Troféu Cittá di Jesolo, na Itália, mais importante competição do primeiro semestre. Por equipes, ajudou o Brasil a faturar a prata. Mas, em 2014, quatro anos atrás, portanto, o site da Record TV decretou que ela era uma "ginasta em decadência". Ofendida, Jade, que à época tinha 22, entrou na Justiça e será indenizada em R$ 20 mil por danos morais.

A decisão colegiada da 18ª Vara Cível do Rio de Janeiro foi proferida há dois meses, mas ganhou projeção após reportagem do site jurídico Jota. Ainda que ela tenha sido tomada em segunda instância, é passível de recurso. Para o relator do caso, a reportagem era "notoriamente sensacionalista" e caracteriza "abuso do direito à liberdade de expressão".

O curioso é que entre a reportagem que culminou com o processo, exibida em 2014, e a decisão dos desembargadores fluminenses, a própria Jade chegou a ser contratada da Record TV. Em meados do ano passado, afastada das competições oficiais na ginástica, ela participou do reality show Dancing Brasil, chegando à final do torneio de dança.

A defesa da Record até alegou que a aceitação do convite demonstrava, por parte de Jade, um perdão tácito. A emissora inclusive passou a exaltar a ginasta em seu noticiário. Em fevereiro passado, exibiu reportagem mostrando que Jade "exala talento na ginástica e na dança".

Em 2014 não foi assim. Matéria publicada pelo R7 com o título "Atletas em decadência apelam para as redes sociais para não perder fama" mostrava atletas que, no entender da Record, "já tiveram fases melhores e hoje vivem às custas do Instagram".

Sobre Jade, o R7 escreveu: "de volta à ginástica, a rainha dos selfies na internet, Jade Barbosa, hoje vive mais do corpão do que das medalhas". No processo por perdas e danos, aberto em 2016, a ginasta alegou que desde então tem sofrido comentários depreciativos, argumentando que a matéria poderia prejudicar sua relação com os patrocinadores.

Inicialmente a Record foi condenada à revelia (ou seja, sem se defender) a uma multa de R$ 100 mil. A emissora recorreu e o caso chegou à segunda instância. Ali, o relator Carlos Eduardo Fonseca Passos ponderou que Jade não comprovou ter sofrido prejuízo financeiro, mas admitiu que a publicação as publicações foram "despidas de conteúdo informativo, irrelevantes ao interesse público e, de fato, depreciam o nome da demandante, tratada como atleta decadente e dependente das redes social para manutenção de sua fama".

A assessoria de imprensa da Record, convidada a comentar a nota, reforçou que a decisão não é definitiva e cabe recurso. Já o staff de Jade não respondeu aos contatos da reportagem.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.