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Olhar Olímpico

Atletas ganham maior voz nas confederações, mas parecem não se importar

Demétrio Vecchioli

06/04/2018 04h00

Comissão de Atletas do COB

Há duas semanas, a comissão de atletas da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) fez chegar à imprensa o pedido que viria a ser apresentado na assembleia da entidade, para que os atletas passassem a ter 10, e não mais apenas dois votos no colégio eleitoral. Uma campanha foi realizada nas redes sociais, o total de votos dobrou para quatro, e eles se deram por satisfeitos.

Agora, graças a uma portaria ministerial, eles chegaram próximos do que tanto queriam. Mas não fizeram nenhum barulho para comemorar – talvez, nem saibam. Na quarta, como adiantou o Olhar Olímpico, o então ministro Leonardo Picciani regulamentou o artigo 18-A da Lei Pelé estabelecendo que, nas confederações, para cada três votos de federações, deve haver um de atletas. Ou seja: na CBV, é obrigatório que o colégio eleitoral tenha sete atletas.

O decreto pode ser entendido como um gesto político de Picciani, que deixou o cargo poucas horas depois de assiná-lo, para poder concorrer à reeleição como deputado federal. Mas não deixa de ser uma conquista dos atletas, que brigaram por espaço absolutamente igual no COB. Houve manifestações públicas, campanha nas redes sociais, barulho na imprensa. Tudo para que os atletas tivessem 1/4 dos votos na assembleia do COB. O ministério apoiou a campanha e agora estendeu a vitória.

Ter voz no COB é importante, é claro, mas não mais do que na confederação. Um atleta de vôlei, por exemplo, está a serviço do COB não mais do que um mês a cada quatro anos, somando Pan e Olimpíada. Assim, são as decisões tomadas nas confederações que influem diretamente no esporte que ele pratica, no campeonato que ele joga, na seleção que ele defende. É a confederação a esfera mais importante de decisão para o atleta.

Ganhar voz dentro da confederação, para confrontar dirigentes estaduais muitas vezes (ou quase sempre) mal preparados, é a oportunidade de mudar o rumo das coisas. Basta ver dois exemplos: na CBB (basquete), os atletas agora têm 10 cadeiras e dominaram o debate na primeira assembleia desde a implantação da novidade, conseguindo a punição ao ex-presidente Carlos Nunes. No atletismo, onde 15 votam, foi fundamental a pressão dos atletas para derrubar o então presidente Toninho Fernandes.

Novamente: noves fora o viés político do ato de Picciani, a portaria da última quarta-feira é um fato que terá consequências históricas para o esporte no Brasil. Na CBDA (desportos aquáticos) por exemplo, hoje só um atleta vota, mas na próxima eleição serão sete. Presidente da comissão de atletas, Léo de Deus, sempre ativo nas redes sociais, não fez nenhum comentário a respeito – a última postagem de seu Instagram é uma foto de cueca.

É chocante ver a falta de interesse dos atletas de fazerem parte do jogo político, de sentarem nas cadeiras que estão puxadas para eles no debate sobre o esporte que eles praticam. Talvez esse seja um sinal de que os atletas não estejam tão prontos assim para serem ouvidos.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.