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Olhar Olímpico

Formiga relaciona preparação a calendário enxuto, mas crê em vaga olímpica

Demétrio Vecchioli

05/04/2018 04h00

(Lucas Figueiredo/CBF)

A seleção brasileira feminina de futebol começa nesta quinta-feira a disputa do torneio que vai definir seu futuro pelos próximos dois anos, pelo menos. A Copa América, disputada no Chile, vale vagas para os Jogos Pan-Americanos, para a Copa do Mundo, ambos no ano que vem, e, o mais importante: para a Olimpíada de Tóquio, em 2020. E a competição vai marcar a reestreia de uma velha conhecida: a volante Formiga, que voltou atrás de uma aposentadoria (só da seleção) anunciada no fim de 2016 e vai defender o time comandado mais uma vez pelo técnico Vadão.

"Voltei por essa necessidade, por eles não encontrarem uma volante com o estilo de jogo que estão precisando no meio, mais de marcação. A gente precisa da classificação para todas essas competições e eu fiquei preocupada. Claro que muitos pensam que vai ser fácil, mas as outras seleções evoluíram bastante. Espero que a gente consiga classificar, confio nisso. Aceitei a convocação pensando no amanhã", disse Formiga, em entrevista por telefone ao Olhar Olímpico, já no Chile, na quarta-feira à tarde

A própria volante, que completou 40 anos no mês passado, admitiu que não tinha certeza se será titular contra a Argentina, em Coquimbo, em partida que começa às 19 horas de Brasília. É que o técnico Vadão não realizou nenhum treino coletivo tradicional antes do jogo. A seleção também não fez amistosos de preparação, de forma que o time para a disputa da Copa América era uma grande incógnita – à noite, o técnico divulgou a escalação, com a volante de titular.

Veja também: Jogar torneio amistoso seria 'risco desnecessário' para seleção, diz Vadão

Para Formiga, a preparação deficiente tem a muito a ver com o calendário do futebol feminino no Brasil. "As meninas param de jogar muito cedo. Quando pegam as convocações, precisam focar na parte física. Deveria mudar o calendário e estender um pouco mais, fazer o Brasileiro igual o masculino. A seleção tem a ganhar com isso, mantém as meninas jogando, deixa elas bem fisicamente e dá tempo de fazer amistosos. Gostaria muito que mudasse o calendário do feminino", cobrou.

A volante está em plena atividade no PSG, da França. Mas as jogadoras que atuam no país não jogam no mínimo desde o começo de outubro, data da final do Campeonato Paulista. Neste ano, o Paulistão será antes do Brasileiro, mas só começou há duas semanas. "Se você tem um campeonato duradouro, o trabalho da parte física na seleção diminui, porque você vem jogando no seu clube e não perde tempo preparando na parte física. Se você está sem jogar desde outubro, não consegue ir direto para a parte tática", complementa.

Leia a opinião das Dibradoras sobre a preparação para a Copa América

O argumento é o mesmo utilizado por Vadão. O treinador trabalhou com um grupo de jogadoras na Granja Comary praticamente de forma contínua entre 11 de janeiro e a semana passada. O elenco foi diminuindo à medida que algumas delas voltaram a seus clubes no exterior ou deixaram o time das desempregadas. Na reta final de treinamentos, praticamente só estavam aquelas que estão inscritas em clubes brasileiros, mas só quatro delas foram convocadas para a Copa América, três delas goleiras.

A maior parte do elenco que está no Chile só treinou junta por poucos dias. Primeiro, em uma janela de partidas internacionais no fim de fevereiro, na qual o Brasil foi único time entre os 20 primeiros do ranking mundial a não realizar nenhum amistoso. Depois, na última semana antes da Copa América – a lista de convocadas só saiu no sábado. A própria Formiga só voltou para esses dois períodos.

Mas o problema vai além do calendário brasileiro. Três das convocadas, entre elas Marta, jogam no Orlando Pride, que também fez seu último jogo de 2017 em 7 de outubro e voltou aos gramados há duas semanas. Há ainda outras duas jogadoras da liga norte-americana na mesma situação, assim como quem atua na Coreia do Sul e na China. Com a diferença que os clubes estrangeiros não liberaram suas jogadoras para o longo período de treinos na Granja Comary.

Chances

O time que vai jogar a Copa América, porém, passa muito perto do melhor que Vadão tem à disposição. Por lesão, ele não pôde convocar  a zagueira Bruna Benites, a lateral Fabiana e atacante Ludmila. Por outro lado, o treinador volta a contar com a atacante Cristiane, outra que havia anunciado que não jogaria mais pela seleção – Cris falou com o UOL Esporte e você pode ler a entrevista aqui.

Para que não reste dúvida do que esperar para a Copa América, Formiga já avisa: "A gente quer se classificar para o Mundial, não está aqui para dar show". "Nosso foco é realmente esse e que assim seja", complementa, ressaltando que "não quer nem pensar" na possibilidade de o Brasil não conseguir uma vaga olímpica.

O torneio vai até o dia 22 e classifica o campeão para Tóquio-2020 e o vice para a repescagem. Além disso, a Copa América dá duas vagas na Copa do Mundo 2019, na França (o terceiro colocado vai para a repescagem contra um time da Concacaf), e quatro para os Jogos Pan-Americanos Lima-2019.

Caso as vagas de fato venham, Formiga vai novamente pensar se para ou continua servindo a seleção. "Enquanto meu corpo não reclamar eu continuo jogando. Aqui na seleção eu falei que não é certo continuar após a Copa América. Eu estava dando prioridade apenas ao meu clube e, como retornei, agora estou pensando nas duas partes. Impossível não é, mas tem muita coisa para acontecer", avisa. Com contrato até junho com o PSG, ela já negocia a renovação.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.