Topo

Olhar Olímpico

Romário pede a Dogde que suspenda eleição da CBF: 'Golpe'

Demétrio Vecchioli

04/04/2018 13h37

    (Divulgação)

O craque Romário, junto com outros cinco parlamentares, entregou nesta quarta-feira um pedido à Procuradoria Geral da República (PGR) para que suspenda eleição presidencial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), marcada para o próximo dia 17. Eles foram recebido pelo subprocurador-geral da República, Carlos Alberto Carvalho de Vilhena Coelho, que ficou repassar o documento à procuradora-geral Raquel Dodge para que ela analise o caso.

De qualquer forma, o subprocurador sugeriu que os deputados e senadores apresentem o mesmo pedido à Justiça Federal do Rio. Antes deles, o Ministério Público do Rio fez a mesma coisa, pedindo a suspensão de alterações no estatuto do CBF, como revelou o UOL ontem. A CBF afirma que fez tudo dentro da lei – veja nota no final

O documento solicitando o cancelamento da eleição, que vai eleger Rogério Caboclo, candidato único, como o substituto de Marco Polo del Nero, foi assinado por Romário (Podemos-RJ) e pelo também senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que não esteve presente na reunião. Por outro lado, estiveram na PGR os senadores José Medeiros (Podemos-MT), Magno Malta (PR-ES) e os deputados Otávio Leite (PSDB-RJ) João Derly (Rede-RS) e Ezequiel Teixeira (Podemos-RJ) e Sílvio Torres (PSDB-SP), que subscrevem o documento.

Na representação endereçada à procuradora-geral Raquel Dodge, Romário e Randolfe afirmam que a alteração do estatuto da CBF, dando peso diferenciados a clubes e federações, promoveu um "verdadeiro golpe" na entidade. E argumentam que a CBF, como entidade máxima do futebol brasileiro, precisa cumprir dispositivos de marco legal do esporte.

Acompanhe as outras notícias da CBF no Olhar Olímpico

"Em manobra protagonizada ainda sob os auspícios do presidente banido pela Ffifa, Marco Polo Del Nero, no ano de 2017, convocou somente os atores sob seu controle ‒ as federações estaduais ‒ para uma assembleia geral que, dentre outras mudança estatutárias, promoveu um verdadeiro golpe às inovações trazidas pela legislação: impôs pesos diferenciados no colégio eleitoral entre federação e clubes das séries A e B, na proporção de 3, 2 e 1. Na prática, retomou o controle sobre o processo, visto que novamente bastava o apoio das dependentes e financiadas federações estaduais para a manutenção da atual gestão", apontaram os senadores.

Eles pedem que Dodge "tome as medidas legais cabíveis no sentido de cancelar ou anular" o processo eleitoral da CBF. Para tanto, lembram de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) do ministro do STF Celso de Mello, que em 2005 contestou a autonomia das entidades de administração da prática esportiva. "Embora tais entidades estejam sujeitas às normas gerais fundadas na legislação emanada pelo Estado, eis que a noção de autonomia, ainda que de extração constitucional, não se revela absoluta, nem tem a extensão e o conteúdo inerentes ao conceito de soberania e de independência", escreveu Celso de Mello na ocasião.

A partir daí, os parlamentares lembram que o futebol está "no seio da nossa sociedade" e que a responsabilidade sobre o futebol é exclusiva da CBF, que "carrega sob seus ombros a representação máxima da identidade esportiva pátria, controlando um dos mais caros e cultuados símbolos nacionais e com expressão e representatividade em todo o mundo".

Ao citar os problemas da CBF, inclusive indicando reportagem do Olhar Olímpico sobre a falta de transparência da entidade, Romário e Randolfe apontam que a confederação se tornou "um verdadeiro feudo", que é sustentado "pelas cifras vultosas obtidas com a exploração da paixão do povo brasileiro pelo futebol  e venda da marca de um dos principais símbolos da nação: a seleção brasileira de futebol".

Eles lembram ainda que, em 2017, Del Nero convocou"somente os atores sob seu controle ‒ as federações estaduais" para a assembleia que promoveu as mudanças estatutárias, dando peso menor para os votos dos clubes na comparação com as confederações.

Leia também: Raspadinha federal terá escudo de clubes e beneficiará esporte escolar

"Não há dúvidas, portanto, que, em clara, manifesta e oportunista tentativa de contornar as inovações trazidas pela legislação desportiva, a atual direção da CBF manipulou o seu colégio eleitoral para, por meio de manobra ilegal de alteração estatutária, manter o controle de seus votos e continuar a impedir a democratização do futebol brasileiro. Voltando a ser parte minoritária pelo peso diferenciado, ao conjunto de clubes caberá o mero referendo à chapa imposta pela atual gestão às federações, pois não lhes interessa o confronto sem chance de vitória e com ameaça de represálias futuras. Essa é a principal razão do seu silêncio", atestam Romário e Randolfe

Assim, os senadores pedem que Dodge "tome as devidas e tempestivas providências legais para que sejam canceladas as manipuladas eleições na CBF, cuja principal e única candidatura é a do seu atual diretor financeiro, Rogério Caboclo, homem de confiança do atual Presidente banido pela FIFA por corrupção e recebimento de vantagens indevidas, além de outras medidas que cancelem as alterações ilegais estatutárias e os desmandos e desvios de conduta na gestão daquela entidade".

Outro lado

Confira a nota da CBF

A CBF esclarece que a alteração estatutária levada a efeito com total regularidade por sua Assembleia Geral, e que é objeto de indagação por alguns tradicionais oponentes da entidade, cuidou de conferir direito a voto aos 20 clubes da Série B, em respeito à democratização do processo eleitoral.

Importante destacar que, enquanto a lei permitia a adoção de um sistema de peso de voto na proporção de seis para um, a CBF optou por um sistema que prevê votos de peso três, dois e um para federações estaduais, clubes da Série A e da Série B. Isso garantiu que a representatividade de clubes e federações no colégio eleitoral não fosse alterada.

Em nenhum momento houve mudança do procedimento para registro de chapa e candidatura, que se mantém íntegro e impassível de discussão judicial há décadas e que foi piamente respeitado no atual processo eleitoral. O que existe neste momento é a tentativa de confundir os assuntos, dando a impressão que houve alteração para beneficiar alguma das partes.

Por fim, neste momento cumpre registrar que, com o apoio de 93% dos clubes (37) e 93% das federações (25), torna-se absolutamente irrelevante o peso dos votos ora discutido, uma vez que a chapa registrada foi legitimada pela quase totalidade dos eleitores.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.