Sem confiar na energia, clubes têm gastos extras no Pacaembu à noite
As seguidas quedas de energia em partidas disputadas no Pacaembu expuseram um fato que até então passava desapercebido: a falta de confiança na rede elétrica da concessionária de energia (no caso, a Eletropaulo) faz com que os clubes paguem duas vezes pela utilização do estádio à noite. Uma por se verem obrigados a utilizarem geradores em tempo integral quando atuam no Pacaembu. Outra, devido à prefeitura de São Paulo cobra até R$ 20 mil a mais pelo aluguel noturno. Na única vez em que não houve locação de gerador este ano, num jogo pela Copinha, a falta dele foi a justificativa da prefeitura para a interrupção por falta de energia.
A própria prefeitura, quando questionada pelo Olhar Olímpico, não conseguiu detalhar os motivos pelos quais as partidas realizadas à noite seriam mais onerosas aos cofres públicos do que as vespertinas. Questionada se há diferença de custos de operação para a prefeitura em jogos noturnos ou diurnos, somente alegou que os geradores não funcionam para todo o complexo," apenas arquibancadas e torres de iluminação do gramado". Pelo restante do "complexo" entende-se o ginásio, as piscinas e as quadras de tênis.
Atualmente, vigora para a locação do Pacaembu uma tabela fixada por decreto do prefeito João Doria (PSDB), de 22 de dezembro do ano passado. Por esse decreto, nos jogos em que há cobrança de ingresso (logo, todos os jogos dos clubes profissionais), o preço do aluguel deve ser 12% sobre a renda bruta quando o jogo for "diurno", contra 15% da receita bruta nos jogos "noturnos".
Esse valor deve ficar entre um preço mínimo e máximo, também estipulados pelo decreto. Nas partidas diurnas, o piso é R$ 35,2 mil e o teto R$ 80 mil. Nas noturnas o preço varia sempre entre R$ 36 mil e R$ 100,3 mil. Alugar geradores tem custado até R$ 14 mil aos clubes, por partida. Além disso, os clubes costuma pagar mais de R$ 18 mil pelo "quadro móvel" do Pacaembu – ou seja, para que os funcionários do estádio atuem também durante a partida.
No Paulistão, a locação de um gerador "de emergência" em estádios para mais de 20 mil pessoas (caso do Pacaembu) é uma regra do Manual de Infraestrutura de Estádios, criado em 2015 pela Federação Paulista de Futebol (FPF). Só que há muitos anos o gerador que deveria ficar para casos de emergência é utilizado em tempo integral no Pacaembu. Ou seja: a rede da Eletropaulo não é usada.
Já no Campeonato Brasileiro, até o ano passado a locação de geradores "de emergência" não era obrigatória, ainda que os clubes paulitas preferissem não correr risco e o acionavam sempre que utilizavam o Pacaembu. Para 2018, porém, começa a valer o Manual de Licenciamento da CBF, que exige os geradores nas partidas da Série A para "dar continuidade ao jogo e assegurar o funcionamento das instalações na ausência de energia".
Ligar o gerador como fonte prioritária de energia não é uma exigência, mas na única vez no ano que não houve locação de gerador (o duelo entre Palmeiras e Portuguesa pela Copa São Paulo, com mando da federação), houve paralisação por 15 minutos por falta de energia. "Nesse jogo, a responsabilidade foi de quem não alugou gerador", argumentou Jorge Damião, secretário municipal de Esporte.
Questionada, a prefeitura não informou desde quando a diferenciação no valor do aluguel, mas a reportagem identificou que pelo menos desde o fim de 2015 (logo, ainda na gestão Haddad) o decreto que atualiza os preços mantém o mesmo formato, variando apenas os números. Para o ano de 2016, cobrava-se um teto de R$ 71 mil para os jogos diurnos e de R$ 89 mil para os noturnos.
Em nota, a Eletropaulo se manifestou sobre o uso de geradores no Pacaembu:
"A Eletropaulo esclarece que a obrigação de existência de geradores em estádios foi fixada pela FPF para a Série A do campeonato, que ocorre no Estado todo e não só na cidade de São Paulo. Assim, isso não decorre de falta de credibilidade no serviço da Eletropaulo, mas de garantia de conforto e segurança que produtores de eventos tem que dar ao público", informa a concessionária.
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