Presidentes da CBDA e da CBAt entram na mira da polícia civil de São Paulo
A Polícia Civil de São Paulo quer saber a participação de Toninho Fernandes, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), e Miguel Cagnoni, presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) em supostas irregularidades cometidas em convênios firmados pelos dois com a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo, conhecida por SELJ.
Em dezembro, uma série de reportagens do Olhar Olímpico mostrou como funcionavam os convênios firmados entre federações (também as paulistas de judô e atletismo) e a SELJ. Via de regra, essas entidades contratavam empresas supostamente fantasmas para realizar serviços inerentes a elas, como organização de torneios, contratação de treinadores e serviços administrativos. Essas empresas apresentavam orçamentos genéricos e concorriam contra outras empresas supostamente de fachada.
As reportagens chegaram até a Polícia Civil, que decidiu abrir três inquéritos. Em um, são investigadas a Federação Paulista de Atletismo (que teve Toninho Fernandes como presidente até 2014) e a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), para onde Toninho migrou em 2014. A reportagem do Olhar Olímpico apresentou indícios de irregularidades especialmente em uma nota fiscal de R$ 550 mil, apresentada à SELJ, para a hospedagem de 370 atletas durante o Troféu Brasil. Em anexo, uma lista com 370 nomes, mas ao que tudo indica ninguém ficou de fato hospedado – a reportagem recebeu mensagem de mais de 100 desses atletas negando terem sido beneficiados.
Até agora, a CBAt não apresentou resposta clara à denúncia. Ao Olhar Olímpico, antes da publicação da reportagem, informou que a lista de atletas havia sido informada pelos treinadores dos clubes – que negaram a informação. Depois, em comunicados, a CBAt passou a acusar a reportagem e se defender alegando que a prestação de contas foi aprovada e que não a confederação não era alvo de investigação. Mas a SELJ reabriu os processos e agora também terá que prestar contas à Polícia Civil. Uma assembleia em 26 de março deve definir inclusive um possível afastamento de Toninho na CBAt.
Numa apuração preliminar, chamou a atenção dos investigadores o fato de, nos processos, a SELJ nunca contestar orçamentos e valores passados informados pelas confederações, ainda que eles fossem genéricos ou com indícios de superfaturamento, como a locação de tatames por mais de R$ 800 mil pela Federação Paulista de Judô (FPJ).
A FPJ, aliás, tem um inquérito só para ela, mesma situação da Federação Aquática Paulista (FAP), que então era presidida por Miguel Cagnoni, hoje presidente da CBDA. Cagnoni já teria sido intimado a depor, assim como Marcelo Biazoli, atual presidente da FAP. Vice durante a gestão dos convênios, ele já foi ouvido e negou conhecer a Rumo Certo, empresa que ficava com a maior parte do dinheiro em subcontratações e que, em teoria, geria os centros de treinamento da federação.
Em todos os inquéritos, a polícia investiga os crimes de fraude em licitação e estelionato. A SELJ aparece como vítima do suposto esquema.
Procurado, Miguel Cagnoni respondeu que "não prestará nenhuma declaração neste momento". "Estamos à disposição das autoridades para os devidos esclarecimentos", completou. A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) não respondeu as questões da reportagem.
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