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Olhar Olímpico

Agora no ciclismo: campeã brasileira ganha 3 vezes menos que campeão

Demétrio Vecchioli

20/02/2018 04h00

Renato Rezende (reprodução/Facebook)

Há 20 dias, a imagem de dois atletas no pódio de uma competição de skate com seus cheques em mãos gerou grande polêmica no esporte brasileiro. A campeã da prova feminina ganhou R$ 5 mil. O campeão da disputa masculina, R$ 17 mil. No último fim de semana, em São Paulo, a história se repetiu, agora em um campeonato nacional de ciclismo BMX. A premiação delas (R$ 560) foi aproximadamente um terço menor do que a deles (R$ 1.500). Isso apesar de o Brasil estar muito melhor no ranking mundial no BMX feminino (em nono) do que no masculino (19º).

O torneio era a Taça Brasil de BMX, realizada em uma pista recém-inaugurada na zona leste da capital paulista. Oitava do ranking mundial (melhor posição já alcançada por um ciclista brasileiro), Priscilla Carnaval venceu a prova feminina e levou para casa um cheque de R$ 560, apenas. Atleta olímpico como ela, Renato Rezende ganhou R$ 1.500 pela vitória no masculino.

Relembre: Pódio no skate gera polêmica: por que homem ganhou 3 vezes mais que mulher?

"A pontuação oferecida no ranking mundial é igual, o treinamento é igual, os gastos são iguais, a dedicação é igual. Não vejo motivo para a premiação mais baixa", disse Priscilla, quando procurada pelo blog para comentar a diferença de premiação.

A Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), responsável pela organização do torneio, diz que a diferença se deu porque havia menos atletas inscritas no torneio feminino. A entidade chegou a anunciar que nas duas categorias a premiação seria de R$ 1.500, condicionando o prêmio no feminino, porém, à inscrição de pelo menos 10 atletas. Mas só seis delas tiveram condições de pagar a taxa de inscrição: R$ 160.

A CBC alega que não pôde pagar a premiação total porque o prêmio dependia do valor recolhido com as inscrições. A confederação se propunha a premiar com dinheiro os três primeiros na elite e na categoria júnior, distribuindo R$ 13 mil. Ainda de acordo com a CBC, mais de 400 atletas competiram, pagando taxas que variavam de R$ 80 (base) e R$ 160.

Além disso, a CBC diz que a Taça Brasil não tinha patrocinador para ajudar na premiação. Ainda assim, os cheques recebidos por Renato e por Priscilla e exibidos no pódio levavam a marca da Penks Vestuários, que a confederação informou, em releases, ser patrocinadora da competição. Ao blog, a CBC alegou que a empresa só pagou por troféus, medalhas e camisetas de campeão. Mesmo assim, anunciou no cheque.

Internacionalmente, o ciclismo BMX não leva em consideração número de atletas inscritos para determinar premiações. Nas Copas do Mundo, o campeão da etapa leva 2,5 mil euros, seja do masculino, ou do feminino, que sempre tem menos inscritas.

Para Priscilla Carnaval, candidata a medalha nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a falta de estímulo financeiro atrapalha o desenvolvimento da modalidade. "Estou batalhando pra conseguir participar de todos os campeonatos, mas não está fácil. Com o baixo apoio de patrocinadores e baixo retorno nas competições, tem sido bastante complicado. Vejo as meninas cada vez mais desmotivadas. É muito desmerecedor quando hoje temos o melhor resultado do país no feminino. Acredito que o número de atletas, que faz elevar o nível do esporte no Brasil, não vai aumentar diante de um retorno como este", apontou.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.