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Olhar Olímpico

Em dois dias, COB demitiu 27 e pagou mais de R$ 1,3 milhão em rescisões

Demétrio Vecchioli

01/02/2018 04h00

Rogério Sampaio, Paulo Wanderley e Leonardo Picciani (Paulo Pinto/CBJ)

Em apenas dois dias, 14 e 15 de dezembro, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) mandou embora quase 15% dos seus funcionários, contabilizando 27 demissões no período. Desde que Paulo Wanderley assumiu a presidência do comitê, vaga com a renúncia de Carlos Arthur Nuzman, 43 pessoas já foram desligadas, sem contar as saídas de estagiários no fim do ano. Só em rescisões trabalhistas, até 31 de dezembro, o COB já gastou mais de R$ 2,5 milhões, sendo que mais de R$ 1,3 milhão são referentes apenas às 27 demissões do meio de dezembro.

Esses dados foram disponibilizados pelo próprio COB, que em novembro passado assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério do Esporte para não deixar de receber os recursos da Lei Agnelo/Piva, que é responsável por cobrir a maior parte da folha salarial do comitê. Em contrapartida, prometeu tornar esses dados públicos, o que agora o fez.

VEJA TAMBÉM – COB revela que Paulo Wanderley recebia R$ 23 mil ao mês para ser vice

O Olhar Olímpico fez um levantamento a partir da base de dados disponível no site do COB e encontrou 43 desligamentos entre 7 de outubro, quando Nuzman foi preso e Paulo Wanderley assumiu a presidência então de forma provisória, e 31 de dezembro do ano passado. A conta sobe para 44 se também for considerada a saída de Nuzman, que recebia R$ 23 mil mensais como presidente – o salário será herdado pelo vice a ser eleito provavelmente ainda em fevereiro.

A maior parte das demissões ocorreu entre 14 e 15 de dezembro, quinta e sexta, antes de o COB entrar no seu tradicional recesso de fim de ano. Nesses dois dias, foram oficialmente desligados funcionários dos mais diversos setores – e de diferentes faixas salariais. Alguns, com mais de 20 anos de casa, como Ana Mariza Gonçalves Ribeiro, gerente de relações internacionais, que entrou no COB em 1995 – ano em que Nuzman foi eleito presidente pela primeira vez.

Diversos outros funcionários ligados a Nuzman perderam seus cargos em dezembro, como Heloisa Moreira (assistente), Leila Pacheco (secretária) e Valmir Santos (motorista), todos locados no gabinete da presidência.

Desde que assumiu e iniciou os cortes de funcionários no COB, Paulo Wanderley priorizou os cargos mais altos. Os cinco mais bem remunerados foram dispensados. Sergio Lobo, secretário geral, foi o primeiro a sair. Ele ganhava R$ 92 mil ao mês. O general 4 estrelas Augusto Heleno teve seu pedido de demissão anunciado antes de Nuzman renunciar, ainda em outubro, mas só foi desligado em dezembro. Ele recebia R$ 58 mil mensais.

Agberto Guimarães, diretor-executivo, ganhava R$ 77 mil e saiu em 1º de dezembro, seguido de Bernard Rajzman e Edgar Hubner, que ganhavam pouco abaixo do teto da Lei Agnelo/Piva (R$ 47 mil) e foram desligados ainda na primeira quinzena de dezembro.

Ainda assim, o COB continua mantendo em seus quadros seis gerentes gerais com salários de R$ 39,8 mil – o único afastado foi o ex-vice André Richer, que passou mal no dia da primeira operação da Polícia Federal, sendo internado.

Três técnicos esportivos ganham na casa de R$ 37 mil: Torben Grael (vela), Jesus Morlán (canoagem) e Carlos Alberto Cavalheiro (atletismo). Abaixo deles, havia outros quatro funcionários com salários acima de R$ 30 mil, mas só Ana Mariza foi demitida. Como comparativo, o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, recebe R$ 33,7 mil mensais da Câmara dos Deputados (como deputado federal, ele escolheu manter esse salário), apenas R$ 200 a mais do que Adriana Behar, ex-atleta olímpica e gerente de planejamento do COB.

Num escalão abaixo, de salários entre R$ 20 mil e R$ 30 mil, Paulo Wanderley encontrou 14 funcionários, dos quais 10 continuavam no COB no fim de dezembro. Já na faixa entre R$ 10 mil e R$ 20 mil de salário, 38 empregados foram mantidos e 13 demitidos pelo novo presidente do comitê.

Folha salarial – Com apenas um patrocinador privado que faz aporte financeiro (a Peak, fornecedora de material esportivo), o COB depende dos recursos que recebe da Lei Agnelo/Piva para bancar sua folha salarial. Desde a ascensão de Paulo Wanderley, já foram demitidos funcionários que, juntos, recebiam quase R$ 700 mil ao mês – a reportagem só localizou uma pessoa contratada no período, com salário de R$ 8 mil.

Isso significa uma redução de 26% na folha salarial, ainda que as demissões representem apenas 17% do total de funcionários que o COB tinha antes de Paulo Wanderley assumir – a contagem não leva em consideração os estagiários e jovens aprendizes.

Ao fim de 2017, de acordo com o levantamento feio pelo blog, o COB tinha uma folha salarial de R$ 1,9 milhão, sem considerar benefícios (auxílio creche e vale transporte, especialmente), para 201 funcionários.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.