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Olhar Olímpico

Fechado há 5 anos, Julio Delamare volta ao governo do RJ sem plano de abrir

Demétrio Vecchioli

30/01/2018 04h00

(Júlio César Guimarães/UOL)

Parece mentira, mas os adventos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos do Rio mantêm fechada desde o dia 1º de abril de 2013 uma das principais instalações esportivas do Rio de Janeiro, o Parque Aquático Julio Delamare. No fim do ano passado, a administração da estrutura, que é anexa ao Maracanã, voltou às mãos do Governo do Estado do Rio, que por enquanto não tem uma previsão para reabri-lo.

Quando parou de funcionar, o Delamare deixou sem terem onde treinar cerca de 40 atletas de alto rendimento, especialmente das modalidades de nado sincronizado e saltos ornamentais – diversos deles hoje treinam no Maria Lenk, na Barra. Também foram fechadas escolinhas de natação e a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) teve que se mudar de lá.

Inicialmente, a ideia era demolir o parque aquático, que viria estacionamento do Maracanã, mas a onda de protestos de julho de 2013 fez o então governador Sérgio Cabral voltar atrás. Naquele momento, a instalação, reformada para o Pan de 2007 ao custo de R$ 10 milhões (valor da época), já estava sucateada. Governo e Comitê Rio-2016, então, fizeram um acordo: o comitê assumiria o local, que serviria de local de treino para a Olimpíada, e em troca o reformaria, com apoio fiscal.

No ano passado, quando o comitê tentou devolver o parque para o governo do estado, a surpresa: a Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude (SEELJE) não o aceitou. Alegou que, em uma vistoria realizada em junho, encontrou "inúmeros problemas de infraestrutura". Pelo contrato, segundo a secretaria, o equipamento deveria ter sido entregue em novembro de 2016 e que a devolução foi adiada exatamente para a realização dessas obras.

Desde então, a SEELJE prometia montar uma comissão técnica para avaliar as condições do parque. A comissão começou a trabalhar em dezembro, mas ainda não chegou a uma conclusão, ameaçando cobrar da Rio-2016 uma multa diária R$ 10 mil por atraso na entrega da obra. O comitê, por outro lado, informou que cumpriu todos os compromissos assumidos com o governo e reformou completamente o Julio Delamare, conforme acordado, mesmo não tendo utilizado o parque durante a Olimpíada.

Oficialmente, o Júlio Delamare ainda encontra-se sob a administração da Rio 2016, ainda que seja agora do governo do estado a responsabilidade por cuidar de sua segurança, desde que a imprensa do Rio mostrou que crianças estavam invadindo o local para aproveitar a piscina que deveria estar à disposição da população.

"Somente com o fim da vistoria é que se poderá saber as medidas cabíveis a serem adotadas", diz a secretaria, sem prever quando a vistoria vai acabar. O governo do Rio também não faz previsão de quando vai reabrir o espaço para a população. "A proposta, é retomar o seu uso com as atividades que já ocorriam por lá anteriormente. Para isso, vem-se procurando obter parcerias com a área esportiva e setores da iniciativa privada", diz a SEELJE, brevemente.

Incentivo fiscal para a obra – A reforma no Julio Delamare foi realizada pelo Comitê Organizador Rio-2016 após a concessão de créditos tributários de R$ 7,5 milhões para o projeto. O crédito foi concedido por meio da chamada Lei do ICMS Olímpico, de 2015.

Com base nessa lei, empresas comprometeram-se a bancar obras olímpicas realizadas sob a supervisão do Comitê Rio-2016. O gasto das empresas com os projetos foi convertido em descontos em impostos que as companhias teriam de pagar ao Estado.

No caso do Julio Delamare, o total dos descontos em impostos concedidos pelas obras no espaço foi de R$ 7,5 milhões, segundo o comitê. Ainda de acordo com o órgão, com o incentivo, foi reformada a casa de bombas das piscinas do parque aquático, sua arquibancada, sua torre de saltos, entre outras coisas.

Nada disso, entretanto, foi usado durante a Rio-2016. No início de 2016, quando o governo incluiu o Julio Delamare no rol de projetos apoiados por incentivos fiscais, a expectativa era que ele servisse de local de treinamento para equipes olímpicas. Antes e durante os Jogos, porém, o parque aquático só foi usado como área de apoio a trabalhadores e voluntários do comitê organizador que atuaram no Maracanã.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.