Campeã mundial de boxe, brasileira foi suspensa por doping, mas não cumpriu
Primeira brasileira campeã mundial de boxe profissional, título conquistado no mês passado, Rose Volantê realizou as três primeiras lutas de seu cartel enquanto estava suspensa por doping. O staff dela chegou a afirmar à reportagem do Olhar Olímpico que a lutadora conseguiu reduzir sua suspensão no tribunal da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) e só fez a estreia profissional depois do fim do gancho. Uma série de documentos negam essa informação.
Lutar profissionalmente durante a suspensão aplicada por uma entidade do boxe amador/olímpico, porém, não consiste em irregularidade. Rose é campeã mundial do peso leve na categoria até 61kg pela Organização Mundial de Boxe (OMB), que não tem qualquer programa antidoping e não reconhece suspensões aplicadas dentro do sistema da Agência Mundial Antidoping (Wada). Comparativamente, é como se ela estivesse suspensa pela CBF e fosse jogar na várzea.
Rose Volantê havia sido campeã brasileira amadora e era candidata a disputar os Jogos Olímpicos do Rio quando caiu em exame antidoping realizado exatamente no Campeonato Brasileiro Amador de 2013. Não só ela, mas outras duas atletas treinadas por Antonio Pereira Gomes, o Tony, cada uma por uma substância diferente. O caso de Rose acabou ofuscado pelo da companheira Roseli Feitosa, campeã mundial amadora em 2011 e que também foi suspensa – à época, a CBBoxe escondeu a punição por meses.
No começo de 2014, o Estadão chegou a noticiar a suspensão de Rose Volantê: 1 ano e 4 meses, retroativa a julho de 2013, quando o exame foi realizado. Isso significa que ela não poderia lutar até 26 novembro de 2014.
Tony, porém, afirmou à reportagem, dois dias depois do título conquistado pela pupila, em dezembro, que o STJD do boxe reduzira a pena dela a seis meses. "Ficou comprovado que ela só consumiu um diurético para perder peso", disse. Na verdade, Rose chegou a recorrer da sentença, que foi mantida em segunda instância.
Entre cumprir a pena no boxe amador e continuar lutando, agora no profissional, Rose escolheu a segunda opção. Em maio de 2014, ela já fez sua primeira luta, em Santos, contra Erika Carolina. Ela voltaria a lutar (e vencer) em setembro, contra Yelka Torres. No mês seguinte, venceu Daniele Oliveira. Durante todo este tempo, estava suspensa do boxe amador, para onde agora não pode voltar.
Todas as lutas tiveram a chancela da Federação Paulista de Boxe (FPB), entidade que regula lutas profissionais em São Paulo, mas que não é reconhecida pela CBBoxe – este papel cabe à Federação de Boxe do Estado de São Paulo. Ou seja: nenhuma dessas lutas foi "oficial", o que não exige que seja levada em consideração a suspensão aplicada pelo STJD do boxe.
Diferentemente do esporte olímpico, que segue diversas cartilhas de combate ao doping, o boxe profissional tem pouca ou nenhuma regulamentação. A OMB, pela qual Rose é campeã mundial, por exemplo, tem a palavra "doping" apenas uma vez em seu regulamento. E para dizer que "encoraja" comissões locais de boxe a conduzir testes antes e depois das lutas. No Brasil, não inexiste esse tipo de comissão. A OMB não possui um sistema de suspensão, exceto a possibilidade de um atleta ser considerado derrotado de uma luta se testar positivo para substâncias dopantes – sem especificar quais.
Tony não soube dizer se Rose foi testada na luta que valeu o título mundial, na Argentina. No combate, a brasileira que agora soma 12 lutas e 12 vitórias, encarou a argentina Brenda Karen Carabajal por um cinturão até então vago. Foi a terceira vez que Brenda teve a chance de lutar por um cinturão. Em todas, perdeu. A brasileira deve defender o título em março, possivelmente em Santos, onde defende a equipe da Memorial.
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