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Olhar Olímpico

TV mostra indícios de irregularidades em controle de doping na CBF

Demétrio Vecchioli

07/01/2018 13h00

Com seu presidente afastado do futebol pela Fifa, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem uma nova dor de cabeça. Uma reportagem veiculada no Esporte Espetacular deste domingo, na Rede Globo, denunciou que o controle antidoping da entidade, recordista mundial em número de exames, desrespeita a legislação internacional. A empresa que realiza os exames é ligada ao diretor de antidoping da CBF, Fernando Solera, que recebe os resultados antes mesmo da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), única que poderia ter acesso a eles.

A empresa citada na reportagem é a Controle de Doping Brasil, aberta em janeiro de 2014, de acordo com a Junta Comercial de São Paulo. Solera era um dos sócios, assim como dois ex-cunhados, Fábio e Renato Deeck, irmãos de sua ex-mulher. Em abril do ano passado, Solera deixou a sociedade.

Porém, a reportagem da Globo esteve duas vezes no endereço onde funciona a Controle de Doping Brasil, em Santana, na Zona Norte de São Paulo, e em ambas encontrou Solera dando expediente lá. Seu chefe na CBF, Jorge Pagura, disse que no ano passado cobrou do médico: ou a empresa, ou a CBF. Afinal, há conflito de interesses. Foi aí que Solera deixou a sociedade.

Fábio e Renato, que hoje são os únicos sócios da empresa, porém, também fazem parte do comitê antidoping da CBF, conforme documento que constava até recentemente no site da entidade. Além disso, no começo do ano passado, Renato representou a CBF em um encontro com a Federação Baiana, citada em texto no site da confederação. Na matéria, ele é citado como "membro da equipe de Solera".

A reportagem do Esporte Espetacular, porém, encontrou outros indícios de irregularidades. Um deles, o envio dos exames para o laboratório de Los Angeles, o maior do mundo. O problema não é contratá-lo, mas a demora no processo. Em um caso, o exame foi colhido em 10 de abril e o resultado só chegou em 3 de junho. Durante um mês, a CBF estocou o exame antes de enviá-lo aos Estados Unidos por meio de um portador.

Como já mostrou o Olhar Olímpico, a CBF chegou a negociar com o  Laboratório Antidoping de Controle de Dopagem (LBCD), no Rio, e inclusive o contratou pelo curto período que o de Los Angeles ficou parcialmente fechado. Mas, segundo Solera disse à Globo, o contrato não foi renovado pelo preço (de fato, o LBCD cobra expressivamente mais caro que o de Los Angeles) e porque o do Rio não repassa à CBF os resultados dos exames.

Esse, aliás, foi o tema de outra reportagem do Olhar Olímpico. É que o resultado chegava à ABCD, que não vinha encaminhando suspensões e não tornava público, sequer à CBF, os atletas que tinham resultado analítico adverso. Isso gerava uma situação de atletas que caíram no doping e nem eles e nem a CBF sabiam. A situação foi corrigida, a ABCD hoje publica tudo em seu site, mas, pelo código antidoping, a CBF não poderia receber os resultados diretamente do laboratório.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.