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Olhar Olímpico

Federação internacional abre precedente criando o 'vôlei de praia indoor'

Demétrio Vecchioli

03/01/2018 12h30

Vôlei de praia em ginásio de Haia, na Holanda / reprodução Instagram

Se no Brasil as duas modalidades são conhecidas apenas como "vôlei" e "vôlei de praia", oficialmente, para a Federação Internacional, elas são o "indoor volleyball" e o "beach volleyball". Afinal, a principal característica que historicamente diferencia uma de outra modalidade é o fato de uma ser disputada em local fechado e, a outra, na areia, ao ar livre – e não mais somente na praia. Pois a própria FIVB, comandada pelo brasileiro Ary Graça, decidiu mandar essa diferenciação às favas.

O Circuito Mundial de Vôlei de Praia começou nesta quarta-feira de uma forma um tanto peculiar: dentro de um ginásio. É que a primeira etapa, de quatro estrelas (segundo maior nível de classificação dos torneios), está sendo jogada em Haia, na Holanda, dentro de um ginásio fechado. O mesmo que recebeu, entre outros eventos, etapas da Liga Mundial de Vôlei e do Circuito Mundial de Judô.

A realização de um evento de vôlei de praia em ginásio fechado não chega a ser novidade, mas nunca uma competição de tamanho porte havia sido jogada em um cenário assim. No ano passado, por exemplo, o Masters do Circuito Europeu foi disputado em ambiente indoor, assim como etapas na Suécia e na República Tcheca, sempre em períodos de frio na Europa.

Agora, a solução chega também ao Circuito Mundial, permitindo que o Hemisfério Norte receba etapas também no inverno e abrindo margem para novos torneios durante o apertado calendário no verão, com eventos semanas após semanas. Afinal, outros importantes centros, especialmente o Brasil, abriram mão de etapas.

A ideia, porém, é uma forte descaracterização do que é o vôlei de praia, um esporte que, diferente do vôlei "indoor", tem como características a influência do clima no jogo. O atleta precisa aprender a lidar com o vento contra ou a favor na hora do saque, com a chuva e a areia molhada, e também com a dificuldade de olhar para a bola e dar de cara com o sol. Nada disso existe em um ambiente indoor.

Além disso, a FIVB cria um perigoso precedente. A grosso modo, se uma etapa do Circuito Mundial pode ser disputada em ambiente indoor, um Mundial também pode. Um circuito inteiro também, uma Olimpíada também. Construir estruturas móveis para eventos de vôlei de praia, mesmo que na cidade (Berlim, por exemplo), é bastante caro e seguir diretamente para ginásios fechados já existentes pode se mostrar um caminho mais barato e prático. Mas, aí, não haverá mais por que ter dois "vôleis".

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.