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Olhar Olímpico

São Silvestre expõe falta de destaques brasileiros nas provas de rua

Demétrio Vecchioli

30/12/2017 04h00

A não ser que ocorra uma grande surpresa, ainda não deverá ser desta vez que o Brasil vai voltar ao alto do pódio da Corrida Internacional de São Silvestre. Não que os estrangeiros contratados para puxar a prova sejam atletas fora do comum, como era Paul Tergat, mas é que o momento dos fundistas brasileiros não é dos melhores. Pelo contrário: é o pior em décadas.

Basta ver os resultados recentes. A temporada 2017 acabou sem nenhum brasileiro tendo corrido uma maratona abaixo de 2h13min – um resultado mínimo para ser considerado um atleta da elite internacional. Com o resultado de Fukuoka (Japão), 2h13min37s, Paulo Roberto de Paula foi apenas o 401º do ranking mundial. Exceto ele, que raramente compete no Brasil, ninguém correu abaixo de 2h17min no ano.

Os resultados de uma maratona (42,1km), não necessariamente podem ser transportados para provas bem mais curtas, como a São Silvestre, que tem 15km. Mas, na história recente, ao menos no masculino, foram os maratonistas que conseguiram os melhores resultados brasileiros na tradicional corrida paulistana. Basta ver que as últimas vitórias na São Silvestre precederam grandes conquistas (Marilson ganhou Nova York em 2006 e o Pan em 2011, enquanto Franck Caldeira levou o Pan de 2007).

Para o ano que vem, nada leva a crer que algum resultado deste porte possa aparecer, depois de uma temporada em que, pela primeira vez, nenhum brasileiro disputou a maratona do Mundial de Atletismo.

Vitórias em provas locais, como a Volta da Pampulha, a Gonzaguinha e Meias-Maratonas como a do Rio, não têm qualquer peso a nível internacional. Não é preciso ir longe: ninguém no país correu a meia abaixo de 1h04min, marca considerada alta para os padrões internacionais – entre 2010 e 2012, o líder do ranking nacional estava na casa de 1h01min, diferença que vale como uma eternidade em provas dessa distância.

É fato inconteste que o cenário de provas de rua está em ampla expansão no país, atraindo cada vez mais amadores. O nível da elite, porém, não segue o mesmo ritmo, muito por conta da necessidade de os melhores do país fazerem o chamado "bate saco", que é correr provas quase todo fim de semana, às vezes sábado e domingo, para, de grão em grão, tirar seu sustento.

O cenário ruim é refletido também na pista. Se há 11 anos Marilson corria os 10.000m em 27min47s, o líder do ranking brasileiro de 2017 ficou acima de 29 minutos pela primeira vez em mais de uma década.

Vindo dos 10.000m, aliás, Giovani dos Santos é a grande esperança de um resultado expressivo na São Silvestre. Ele vem de seis pódios seguidos, sendo quatro em quarto lugar e dois em quinto (cinco vão ao pódio). Principal corredor de rua do país hoje, tem grandes chances de repetir o resultado.

Campeão em 2006, Franck Caldeira também está inscrito. Sem correr a prova há sete anos, não tem expectativas por resultados.

 

 

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.