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Olhar Olímpico

Por última Olimpíada, Sarah volta a mudar de peso e promete "fechar a boca"

Demétrio Vecchioli

15/11/2017 04h00

(Paul Sancya/AP)

Durou um ano e não apresentou nenhum resultado esportivo expressivo a experiência de Sarah Menezes na categoria até 52kg do judô. Campeão olímpica em uma subdivisão abaixo, exatamente a mais baixa, para atletas de até 48kg, a piauiense fez um teste durante a temporada 2017 e foi reprovada. Pensando em 2018, ela já está de volta à seleção agora novamente na categoria em que já foi a melhor do mundo.

"Eu só subi de peso porque a confederação pediu", revelou Sarah, em entrevista ao Olhar Olímpico, por telefone, na tarde de terça-feira. "Eu nunca quis mudar de categoria. Mudei porque a confederação falou. Como eu não tinha nada a perder, era um ano que vale muito pouco, eu resolvi arriscar", explicou.

O pedido da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), porém, não foi por motivos técnicos, pelo contrário. A entidade preferia Sarah no 48kg, se ela não estivesse colocando sua própria saúde em risco para isso. No esporte de alto rendimento com subdivisão de peso, é comum que os atletas pesem no dia-a-dia mais do que o limite de suas categorias e que façam um trabalho específico para perder peso na véspera das competições. Só que Sarah estava exagerando e chegava a pesar 56kg.

"Ela é compulsiva com comida. A grande questão não é bater 48kg, ela nunca deixou de bater. Mas se ela sai de 56kg para 48kg e o físico não tem a mesma performance. Além disso, a gente precisa pensar na saúde dela. No ano passado, aconteceu um episódio que nos preocupou muito, de saúde. Os médicos constataram inclusive que ela tem uma lesão relativamente bem marcada no rim", revelou ao blog o gestor de alto-rendimento da CBJ, Ney Wilson.

Sarah reconhece que a indisciplina alimentar estava extrapolando os limites. "Eu sofria muito para baixar de peso. Brincava muito com meu peso, deixava ficar muito alto e isso estava prejudicando minha saúde. Agora entrei na linha, vou fechar a boca e seguir o planejamento que vamos fazer assim que receber meu calendário para o ano que vem", promete.

A CBJ está de olho. Depois de submeter a judoca a uma bateria de exames, deu a ela um período de seis meses para que se mantenha no meso, podendo chegar a um limite de 5% acima dos 48kg. Se passar disso, Sarah Menezes perde o direito de ser convocada na categoria até 48kg, vaga que conquistou no fim de semana, e voltará a ser convocável apenas na categoria até 52kg.

Nova mudança – Sarah nega que a decisão de voltar à categoria até 48kg tenha a ver com o fato de, na 52kg, ela ter como rival interna a agora cinco vezes medalhista mundial Érika Miranda. "As meninas de fora são mais altas, mais fortes, fica difícil lutar", aponta. Em cinco eventos do Circuito Mundial, Sarah ganhou somente uma prata. No Mundial, foi eliminada de forma precoce. "No 48kg, vou chegar mais rápido ao pódio", acredita. Para Ney Wilson, ela mostrou ansiedade por resultados, que todos sabiam que não viriam no curto prazo.

De volta à categoria mais baixa, Sarah participou dos campeonatos brasileiros, foi campeã nacional no fim de semana passado e garantiu a liderança do ranking nacional. Assim, está garantida na seleção no ano que vem, junto com a Stefanie Arissa, nona do ranking mundial na mesma categoria.

A mudança, porém, não é definitiva. Sarah já decidiu que, passados os Jogos Olímpicos de Tóquio, ela vai voltar a lutar na categoria até 52kg. Mas que ninguém espere a piauiense lutando a Olimpíada de Paris, em 2024. Afinal, a aposentadoria está planejada para o próximo ciclo.

"Quero disputar a Olimpíada de 2020 e depois vou parando aos poucos. Ainda tem muito tempo pela frente, mas acho que não vou para mais um ciclo inteiro. Em Tóquio, vou estar com 30 anos e quero ser mãe. Não posso deixar passar muito tempo, também", diz.

Sarah tem certa pressa em se aposentar porque sabe que só poderá casar quando isso acontecer. Ela namorada o judoca francês Loic Pietri, que também tem 27 anos, e, por causa do judô, cada um vive em um país. Os dois planejam morar junto apenas quando se aposentarem.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.