Topo

Olhar Olímpico

Alto custo do velódromo olímpico impede até Campeonato Brasileiro

Demétrio Vecchioli

11/11/2017 07h00

A promessa de que o Velódromo Olímpico do Rio se tornaria a "casa do ciclismo brasileiro" parece estar cada vez mais distante de se concretizar. Tanto é que a próxima edição do Campeonato Brasileiro de Ciclismo de Pista, marcado para o fim do mês, não vai acontecer lá, mas no Velódromo de Indaiatuba, no interior de São Paulo, que sequer é coberto.

A Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) e a Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO) negociaram bastante para que a competição fosse no velódromo construído para a Olimpíada, mas o custo de operação do local tornou o projeto inviável. O Olhar Olímpico apurou que realizar o Brasileiro lá custaria cerca de R$ 700 mil à confederação, incluindo custos de hospedagem.

É que os principais centros de desenvolvimento de ciclismo de pista no Brasil estão no interior de São Paulo e no Paraná. Para conseguir manter o nível das edições anteriores do Brasileiro e atrair mais de 200 atletas para a competição sendo ela no Rio, a confederação acredita que teria que oferecer incentivos como hospedagem a até alimentação.

Em Indaiatuba isso não é necessário. Além disso, a prefeitura municipal aceitou arcar com despesas operacionais, oferecendo segurança e ambulâncias, por exemplo. No Rio de Janeiro, caberia à confederação arcar com todos os custos. A AGLO havia oferecido isentar a cobrança de aluguel para a competição, que começa dia 27 de novembro e vai até 3 de dezembro, com provas das categorias elite, júnior, juvenil e infanto-juvenil.

Há ainda outro fator que desincentivou a confederação: o velódromo ainda não foi reaberto depois de ter parte do seu teto consumido por um incêndio no final de julho. A reportagem esteve no local há um mês e constatou que a pista precisava ser lixada, mas aparentemente não havia sido danificada. O teto recebeu uma solução paliativa e está coberto. Mas, até agora, a pista não foi reaberta.

De acordo com a AGLO, as obras estão dentro do cronograma previsto e a pista será novamente disponibilizada para treinos após a realização de uma competição de karatê, no próximo dia 17. Mas a confederação entende que é pouco tempo para testar a pista. Afinal, se a pista indicasse que não poderia ser utilizada para uma competição oficial, não haveria como mudar o Brasileiro de local.

Por enquanto, o Velódromo só foi utilizado para uma competição depois dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Um evento amistoso, que marcou a reabertura do espaço, em maio. Quando ocorreu o incêndio, os melhores atletas do país já não treinavam mais lá, preferindo, a maioria deles, continuar em Indaiatuba. Em março do ano que vem, o local receberá o Mundial Paraolímpico.

Paralelamente, a CBC se vê cada vez mais impossibilitada da utilizar o local, por falta de dinheiro. A entidade perdeu o patrocínio da Caixa Econômica Federal este ano e viu a verba da Lei Agnelo/Piva cair de R$ 3 milhões este ano para R$ 2,3 milhões no ano que vem. Esse deverá ser todo o dinheiro disponível para cuidar de cinco modalidades olímpicas no ano que vem – além de BMX, moutain-bike, pista e estrada, a CBC também cuida do BMX Freestyle, nova modalidade.

Para tentar ajudar, o governo federal abriu esta semana um chamamento público disponibilizando R$ 7 milhões para projetos voltados para a promoção e o desenvolvimento do esporte da base ao alto rendimento no Brasil. Terão preferência os projetos que utilizem a estrutura olímpica, mas o dinheiro só será liberado no ano que vem.

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.