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Olhar Olímpico

Barraco entre mães de atletas por causa de Coaracy termina na delegacia

Demétrio Vecchioli

01/11/2017 04h00

Equipe brasileira de nado sincronizado. Luisa é a segunda da esquerda para direita e Lorena a última à direita (Clive Rose/Getty Images)

Considerado um dos esportes mais graciosos dos Jogos Olímpicos, o nado sincronizado viu o segundo principal torneio do calendário nacional terminar em barraco no domingo, depois que as mães de duas atletas, Luisa Borges e Lorena Molinos, ambas da seleção brasileira, trocaram agressões. O tema da discussão, que rendeu até um Boletim de Ocorrência, foi o ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) Coaracy Nunes.

Coaracy, que ficou dois meses e meio preso entre abril e junho, é avô de Luisa Borges, do Fluminense, uma das atletas do dueto brasileiro nos Jogos Olímpicos do Rio. Parceira dela naquela competição, Duda Micucci trocou o Flu pelo Flamengo e passou a formar dupla com Lorena. Esta, por sua vez, disputou a Olimpíada no conjunto. A primeira competição entre elas foi o Campeonato Carioca, disputado domingo.

O torneio, mal-estruturado, foi realizado na piscina da Universidade Federal do Rio, no Fundão. No sábado, Luisa e Maria Bruna venceram o dueto livre contra Duda e Lorena. Luciana Nunes, que fotografa como hobby, acompanhou tudo de perto da piscina. "Por causa de tudo que aconteceu com meu pai, não vou ficar exposta no meio da arquibancada, com todo mundo. Fiquei numa área reservada aos pais que fotografam", alega.

Adriane Cançado, mãe de Lorena, também fotografa e não gostou da posição privilegiada na qual a rival estava. Reclamou diversas vezes com os organizadores, sem sucesso. Quando Luisa caiu na piscina para competir domingo e Luciana continuou onde estava, Adriane decidiu ir lá ela também.

Luciana diz que Adriane chegou ofegante, nervosa, discursando sobre corrupção. E que retrucou: "Tá mordida com a derrota de ontem?". Adriane não confirma a primeira parte, diz que foi provocada primeiro, e só por isso soltou: "Magina, eu só pensava nesse calor dos infernos e tava com pena de você, porque Bangu estava definitivamente mais quente". Luciana perguntou "como assim?" e Adriane fez piada: "Ué, você não foi visitar o papi?".

E não continuou por aí, fazendo acusações contra a moral de Coaracy, do filho de Luciana e até de sua mãe, em questões que extrapolam o esporte.

Luciana não quis continuar a discussão. Na sequência, diz ela, foi agredida por Adriane. Não explica como, mas chegou a ir a uma delegacia para abrir Boletim de Ocorrência e, na segunda-feira, foi ao IML para fazer um exame de corpo delito. Adriane nega, diz que só encostou no ombro dela para que Luciana voltasse para escutar umas e outras.

A confusão continuou. Luisa saiu da piscina e foi defender a mãe. Adriane continuou: "Quem você acha que é? Tudo que você conquistou foi comprado pelo seu avô". Luisa teria empurrado a mãe da rival e a mandado para aquele lugar. Como tudo isso aconteceu na beira da piscina, dentro da área de competição, pode inclusive ser punida esportivamente.

Mas a briga não envolveu apenas as mães. Um dirigente do Fluminense teria ido tirar satisfações com Adriane, que por sua vez foi defendida pelo marido, Ronaldo Carvalho, atleta olímpico de remo. "Se botar o dedo no nariz da minha mulher de novo, vou te encher de porrada", teria dito o remador. "Cuidado que eu sou bom de tiro", teria rebatido o dirigente.

Adriane também chegou a ir à delegacia. Queria abrir boletim de ocorrência contra o dirigente do Fluminense, mas descobriu que não conseguiria enquadrá-lo na Lei Maria da Penha. Além disso, não houve agressão física, apenas verbal. Acabou desistindo.

O nado sincronizado do Brasil vive momento difícil, depois que a confederação viu o que ganha de patrocínio dos Correios cair bastante. A seleção permanente de conjunto foi desfeita, tanto que o Brasil não teve equipe no Mundial de Budapeste. No dueto, Luisa competiu com Maria Clara Lobo, do Flamengo. Elas não conseguiram vaga nas finais.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.