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Olhar Olímpico

Algoz em 1986, novo técnico do basquete lembra time de Oscar de cor

Demétrio Vecchioli

25/10/2017 04h00

(divulgação/CBB)

Guerrinha, Marcel, Oscar, Gerson e Israel. Alex Petrovic lembra de cor o time titular do Brasil que disputou o Mundial de Basquete na Espanha. Mas também, como não se lembrar? Trinta e um anos atrás, mais exatamente em 19 de julho daquele ano de 1986, no Palácio dos Esportes, em Madri, Alex vivia um dos momentos mais marcantes de sua carreira de jogador. Foram 15 pontos dele na vitória por 117 a 91 sobre ao Brasil que levou a Iugoslávia à medalha de bronze da competição.

Então com 27 anos, Alex, que já havia sido medalhista de bronze no Mundial de 1982 e nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, repetia o feito. Enquanto isso, o Brasil, que até pouco tempo antes dividia exatamente com a Iugoslávia o posto de terceira força do basquete (as duas primeiras eram EUA e União Soviética), mantinha seu jejum de pódio em grandes competições. Naquele momento, de oito anos. Hoje, de 39 – e serão 41 até o próximo Mundial.

Agora, Petrovic que ajudar a seleção brasileira a encerrar aquele jejum que ele e seu irmão Drazen Petrovic, um dos maiores da história, não deixaram que chegasse ao fim em 1986. Desde então, o Brasil, semifinalista em oito das 10 primeiras edições do Mundial, nunca mais voltou a ficar entre os quatro primeiros. Reerguer a tradição do basquete brasileiro é exatamente a função do novo técnico, apresentado ontem (terça).

Contratar um técnico estrangeiro era tudo que o presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Guy Peixoto, prometeu não fazer. Mas, depois do fracasso da campanha da Copa América sob o comando de Cesar Guidetti (que continua como auxiliar) e de, segundo ele, não encontrar quem topasse largar o emprego nos clubes para treinar a seleção de forma exclusiva, a solução foi ir ao mercado externo.

Petrovic, que treinou a Croácia na Rio-2016 e no Campeonato Europeu deste ano, aceitou o desafio, incluindo receber um salário mais baixo do que ganhava Ruben Magnano. Os valores não foram revelados, mas o croata vai se encaixar dentro do teto salarial da Lei Agnelo/Piva, que o COB ainda não divulgou qual será para o ano que vem, limite que o argentino superava em muito, tendo seu salário complementado com verbas de patrocinadores.

Citando de cara sua lembrança daquele time do Brasil de 1986, Alex, como prefere ser chamado, chegou ao cargo garantindo que se preparou para o desafio. "Estou fazendo a radiografia (da seleção) e detectei sim algumas falhas. A defesa pode ser um pouco mais forte. Também quero falar com os jogadores antes da competição porque quero saber o que eles pensam sobre jogar um pouco diferente do que eles já vinham jogando. Nos Jogos Olímpicos tínhamos mais jogadores na posição ala-pivô e pivô e isso dificultou a movimentação em quadra", comentou o treinador, em entrevista coletiva.

Ele terá duas semanas para fazer a primeira convocação e apenas três dias de treinamento para o primeiro jogo oficial da equipe, dia 24 de novembro, no Chile, na estreia das Eliminatórias para o Mundial. Aliás, conseguir uma vaga para a competição de 2019, na China, é uma das metas de Alex. As outras duas são jogar bem o Mundial, levando o Brasil também à Olimpíada de Tóquio, e deixar uma base sólida para o futuro.

É que, no entender dele, uma geração inteira vai chegar ao fim depois da Olimpíada de 2020. E, a partir de então, quem estará jogando pela seleção brasileira será um grupo renovado, que precisa ser lapidado nesses próximos três anos.

"Temos que trabalhar com os treinadores que já estão executando esse trabalho com essas equipes de base, e isso é de extrema importância. No meu país, as categorias de 14 e 15 anos treinam muito os fundamentos, não é utilizado o sistema de jogo. Pretendo ajudar os técnicos novos a fazerem novos planejamentos para suas equipes, e consequentemente dar novas oportunidades. E para haver essa renovação é necessário que seja renovado 100%", alegou.

A NBA já avisou que não vai liberar seus atletas para as duas primeiras "datas Fiba". A primeira agora em novembro e a segunda, em fevereiro. Mas os atletas vindos da principal liga do mundo estarão à disposição para os jogos que, em teoria, são os mais complicados desta primeira fase, em 29 de junho e 2 de julho do ano que vem, contra Venezuela e Colômbia, ambos fora de casa.

Por enquanto, Alex vai contar apenas com os jogadores do NBB (que para durante as rodadas das Eliminatórias), da Europa (exceto Marcelinho Huertas, que joga a Euroliga, que por sua vez vem travando queda de braço com a Fiba) e os jogadores que novamente buscam espaço na NBA, como Bruno Caboclo. O croata também já avisou que quem recusar convocação para as Eliminatórias estará descartado – leia aqui.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.