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Olhar Olímpico

Como os Grael, Scheidt sonha ver filho velejador: 'Não tem medo de vento'

Demétrio Vecchioli

18/10/2017 04h00

(William Lucas/inovafoto)

Na última vez que disputou uma competição oficial no Brasil, Robert Scheidt teve quatro barcos como rivais. Dois deles tinham filhos de Torben Grael. Outro, o filho de Lars Grael. A vela é, afinal, um esporte familiar, de tradição passada de pai para filho. No caso do jovem Erik, de 8 anos, a influência é dupla. Além das cinco medalhas olímpicas do pai Robert, a coleção da casa dos Scheidt ainda tem uma de prata da mãe, Gintarė, porta-bandeira da Lituânia na Rio-2016.

Apesar da pouca idade, Erik já dá seus primeiros passos na vela, no barco que é a principal escola para os jovens: o Optimist, para atletas de 7 a 15 anos. Os treinos são nos finais de semana, no quintal de casa, o paradisíaco Lago di Garda, na Itália.

"Ele está gostando muito. O que ele puxou do pai foi falta de paciência com vento fraco. Mas o importante é que ele não tem medo de vento forte, gosta de imprimir velocidade no barco", diz Scheidt. A esposa dele é uma das treinadoras do clube onde Erik treina, mas o bicampeão olímpico já teve a oportunidade de também ajudar no treinamento da "turminha" do filho. "Ficar com 9 garotos o dia todo não é fácil, não", apontou.

O garoto, que tem um irmão dois anos mais novo, Luka, não sofrerá pressão para ser velejador. Por enquanto, o esporte é somente uma brincadeira. "Tem que chegar no momento que ele vai perguntar como funciona, querer saber. Ele tem que gostar de velejar."

Mas não vai adiantar muito, pensando na vela brasileira, se Erik quiser ser velejador, mas competindo pela Itália, onde mora desde que nasceu, ou pela Lituânia, pátria da mãe. "Eu vou tentar puxar ele para o Brasil, com certeza. Na primeira chance vou colar o 'BRA' na vela dele", brincou Scheidt, na entrevista coletiva na qual anunciou o fim de sua carreira em classes olímpicas.

Futuro – O velejador não está exatamente se aposentando. Não competirá mais nas classes olímpicas, como a Laser e a 49er, pela qual disputou a Olimpíada do Rio, mas vai passar a velejar com mais frequência na Star, que não é mais olímpica. Ele também está agora disponível para competir em provas de vela oceânica, especialmente a America's Cup, a mais tradicional da modalidade.

Ainda que tenha se candidatado a representar os atletas brasileiros e da vela na comissão de atletas do Comitê Olímpico Internacional (COI) no ano passado, sendo derrotado, Scheidt não se vê, por enquanto, participando da vida política. Que ninguém também que ele se arrisque como gestor.

"Dentro do alto rendimento, algo que já fiz para o COB foi ser uma espécie de conselheiro para atletas que estavam indo para a primeira Olimpíada. Tive conversas sobre pressão, sobre como encarar uma grande competição, ligado mais ao esporte. Estando no exterior, consigo trazer do que eu vejo que os europeus estão fazendo", avalia, colocando como prioridade para a vela brasileira a formação de velejadores que treinam juntos. "A gente tem um que treina em Porto Alegre, outro no Rio, outro em São Paulo, que só se junta para fazer o Brasileiro. Mas é difícil crescer assim. A gente pode tentar implementar isso para fazer a vela mais forte."

 

 

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.