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Olhar Olímpico

Scheidt voltará à Star e nega aposentadoria: 'Não me vejo no sofá'

Demétrio Vecchioli

17/10/2017 12h10

Aos 44 anos, Robert Scheidt não pretende mais competir em barcos olímpicos. Mas isso não significa que ele esteja aposentado. O que acabou foi a carreira em classes que fazem parte do programa dos Jogos Olímpicos, não a de velejador. Em entrevista coletiva nesta terça-feira, no Yacht Club Santo Amaro, à beira da Guarapiranga, em São Paulo, o dono de cinco medalhas olímpicas confirmou o que o blog já havia adiantado na segunda: ele vai voltar à classe Star e está aberto a convites da vela oceânica, especialmente da America's Cup.

"Chegou o momento no qual a gente não está se sentindo mais tão competitivo. Agora podemos começar a dizer 'sim' para algumas categorias que sempre vinham me chamando e eu dizia não. Neguei muitos convites interessantes. Agora posso começar a dizer sim para algum desses projetos. Aposentadoria é uma palavra meio dura, não me vejo assistindo TV no sofá de casa", explicou.

A vela tem mais de 100 classes, relativas ao modelo dos barcos. Robert começou na Laser e migrou para Star em 2005. Em 2013, quando a Star foi retirada do programa olímpico, ele voltou para a Laser, na qual disputou os Jogos do Rio. Após a Olimpíada no Brasil, arriscou-se um ano na difícil 49er e não teve o sucesso esperado.

Agora, voltar para a Star era o caminho esperado. Considerada a classe mais tradicional da vela, a Star tem uma liga mundial, a Star Sailors League (SSL) e realiza todo fim de ano, em Nassau, nas Bahamas, um concorrido Campeonato Mundial. Scheidt confirmou que irá competir, mas não mais com Bruno Prada, seu antigo parceiro, e sim com gaúcho Henry Boening, o Maguila – os dois já disputaram a competição no ano passado.

Além disso, Scheidt fica livre para aceitar os convites que tantas vezes chegaram a ele no passado para velejar na America's Cup, mais antiga competição de vela de oceano do mundo. E, nessa, ele deu sorte. O barco desafiante da próxima edição, em 2021, é o Circolo della Vela Sicilia e uma regra exige que os integrantes tenham residência na Itália – exatamente onde o brasileiro mora há quase uma década.

A Volvo Ocean Race, que começa na segunda-feira e dura um ano todo, está fora dos planos. "Não me vejo fazendo a Volvo. Prefiro ir para barcos onde você não fique no mar por um período tão longo assim. Tenho meus dois filhos em casa", argumentou.

Motivos – Vencedor da medal race da Laser na Rio-2016, terminando a competição em quarto, Scheidt poderia ter encerrado a carreira por cima. Mas preferiu aceitar a proposta de Gabriel Borges e se arriscar na 49er, em um barco completamente diferente do que ele estava acostumado. Os resultados não vieram (eles foram só 40º colocados no Mundial) e, conversando com pessoas que conhecem bem a classe, Schedit ouviu que, para chegar ao topo, precisaria treinar por mais tempo do que ele tem disponível.

"É um barco que requer um tempo de treino para chegar no alto nível. Considerando meu momento de vida, minha vida pessoal, algumas pequenas lesões que fazem com quem que eu não consiga realizar um volume extremamente alto, tudo isso pesou. Além disso, tem a característica da classe, que acabou neutralizando a força que a gente sempre teve, que é saber ler o vento, saber tomar a vantagem."

Apesar das dificuldades no último ano de carreira olímpica, Robert diz que não se arrepende de nada. "Foram cinco medalhas, uma quase medalha, que já foi em uma Olimpíada onde eu estava indo numa situação de ser o mais velho do flotilha de Laser. Foi uma carreira maravilhosa, não me arrependo de nada", garante.

O próprio Scheidt sabe que, principalmente na classe Laser, na qual o melhor brasileiro foi 55º no Mundial, ele teria lugar se tentasse mais uma corrida olímpica. Mas o veterano não quer competir para ser mais um. "Gosto de ser competitivo e não quero ir por ir. Quero sempre olhar para frente e ver que a gente está indo em direção do objetivo. Chegou esse momento onde a gente não está se sentindo mais tao competitivo. Se eu treinar 10 dias e subir em qualquer campeonato, eu vou brigar entre os 10 primeiros. Mas o difícil é pensar que a Olimpíada é 2020 e não é daqui seis meses. Eu vou continuar velejando de Laser, treino com a molecada que está lá. Mas aí para fazer uma campanha olímpica é um grande passo."

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.