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Olhar Olímpico

No último dia da 'era Nuzman', COB ensina gestão esportiva a ex-atletas

Demétrio Vecchioli

10/10/2017 13h33

Em uma ironia do destino, naquele que pode ser o último dia da 'era Nuzman', a sede do Comitê Olímpico do Brasil (COB) está recebendo diversos ex-atletas como os medalhistas olímpicos Emanuel Rego e Isabel Swan. Enquanto Nuzman está preso em Benfica, eles frequentam o prédio, na Barra, zona sul do Rio, para participarem de um "Curso Avançado de Gestão Esportiva".

O curso, com 35 alunos,é uma das vitrines do Instituto Olímpico Brasileiro, um braço do COB, que tem como função cuidar da área de educação do esporte. Esta é a quarta edição deste curso, que dura um ano e serve como uma pós-graduação. Ele existe desde 2009 e, segundo o COB, já capacitou 216 gestores. Muitos deles atualmente trabalham no próprio comitê.

Segundo o COB, o curso é destinado a profissionais de entidades esportivas de todo o país que exerçam cargo de liderança ou gerenciamento, para atletas e treinadores formados no Programa de Carreira do Atletas e pela Academia Brasileira de Treinadores.

São nove módulos, um deles de gestão de grandes eventos esportivos. Apenas quatro desses módulos são presenciais, de uma semana, e o que ocorre durante toda esta semana é apenas o segundo deles. As aulas começaram na segunda e seguem até sexta-feira e não serão interrompidos nem pela aguardada assembleia extraordinária que vai acontecer amanhã.

O Olhar Olímpico tentou conversar com alguns participantes do curso, mas o clima é hostil. Ninguém quer entrar nos assuntos que rondam o COB nesta terça-feira: a sucessão presidencial e a manutenção de Nuzman na prisão.

Na segunda-feira, o juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio, transformou em preventiva a prisão provisória de cinco dias expedida contra Nuzman na quinta. Ao invés de ser libertado, Nuzman vai continuar preso, agora por tempo indeterminado. Nesta terça de manhã, a defesa protocolou um novo pedido de habeas corpus.
Com Nuzman atrás das grades, a tendência é que a assembleia de quarta-feira marque o fim dos 22 anos à frente do COB. Na sexta, ele assinou um documento pedindo afastamento da presidência do órgão, um dia depois de seu vice, Paulo Wanderley, assumir como presidente interino.

O pedido de afastamento de Nuzman e a suspensão imposta pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) ao COB são os temas na pauta da assembleia extraordinária, mas ainda não está claro o que exatamente será discutido. O COI cobra medidas de compliance e há um entendimento de que o recado seria: presidido por Nuzman, o COB não derruba a suspensão.

Paulo Wanderley e Nuzman nunca foram exatamente próximos e o ex-dirigente do judô tornou-se vice-presidente do COB no ano passado como um representante das confederações no comando da entidade olímpica nacional. Agora, há um entendimento de que ele tem a faca e o queijo na mão para aproveitar a vacância do cargo e o apoio dos eleitores para depor Nuzman e tornar-se o presidente de fato, cumprindo o mandato que vai até 2020.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.