Sem Nuzman, esporte dá passo para extinção de cartolas 'dinossauros'
O pedido de afastamento enviado na sexta-feira por Carlos Arthur Nuzman diretamente da cadeia é o começo do fim da trajetória de 22 anos do cartola à frente do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Apesar da queda do dirigente, que pode perder seu cargo em assembleia marcada para a próxima quarta-feira, no Rio, a cartolagem brasileira ainda vive na era dos "dinossauros". Mas eles estão sendo extintos pouco a pouco e a expectativa é que, a partir de 2020, não existam mais.
Na rodada de eleições após os Jogos Olímpicos do Rio, alguns cartolas veteranos perderam o bastão, como é o caso de Carlos Fróes, que comandava a CBTri (triatlo) desde 1999 e não conseguiu fazer sucessor, ainda que o eleito, Marco La Porta, tenha sido diretor técnico da seleção até 2016. No tênis, Jorge Lacerda, que coleciona processos judiciais desde que assumiu a confederação, em 2004, fez sucessor e desapareceu. Mesma situação no hóquei sobre a grama, onde Sydnei Rocha, presidente desde que fundou a confederação, em 2003, elegeu um dos seus auxiliares envolvido em investigação da Polícia Federal.
No taekwondo, Carlos Fernandes nem pôde se candidatar à reeleição, impedido que foi pela Justiça enquanto também é investigado pela Polícia Federal. Outro que nem concorreu foi Coaracy Nunes, preso durante o processo eleitoral da CBDA – o veterano, então dirigente há mais tempo no cargo, de qualquer forma não seria candidato.
Foi exatamente por casos como os de Fróes, Lacerda, Rocha e Coaracy que o Congresso aprovou e a presidente Dilma Rousseff sancionou em 2014 a MP 620, que alterou a Lei Pelé incluindo uma cláusula na qual só poderão receber recursos públicos as confederações cujos presidentes estejam no máximo em segundo mandato. Como o tempo começou a contar dali, quem se reelegeu em 2016 não poderá fazer o mesmo em 2020.
Seria o caso inclusive de Nuzman, que chegou à presidência do COB em 1995 e foi sendo reeleito consecutivas vezes, a última delas no ano passado. Ele até tinha o plano de deixar o comando da entidade este ano, mas pela porta da frente, eleito presidente da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa). A derrota, porém, frustrou esse plano e o manteve no cargo até sua prisão, na quinta-feira.
Seu substituto, Paulo Wanderley, foi durante 15 anos presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ). Eleito para acabar com a dinastia dos Mamede, também ele se tornou um dinossauro no cargo. Só deixou a presidência, elegendo seu sucessor, Silvio Acacio Borges, porque acreditava que poderia chegar ao comando do COB ainda este ano – não foi pelo caminho que ele imaginava, mas isso de fato aconteceu.
A lista dos que largaram o osso recentemente ainda tem Roberto Gesta de Melo (ficou 26 anos no comando da Confederação Brasileira de Atletismo e deixou o cargo em 2013, para cuidar das federações sul-americana e ibero-americana) e Ary Graça (foram 18 anos à frente da Confederação de Vôlei, renunciando em 2014, já presidente da Federação Internacional).
Ainda assim, a relação dos dinossauros que continua em atividade ainda é grande. O novo campeão de longevidade é João Tomasini Schwertner, que comanda a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) desde 1989. Empatado com ele, Manoel Luiz Oliveira ainda luta na Justiça para validar sua última reeleição à frente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb).
Crítico à gestão de Nuzman, Alaor Gaspar Pinto Azevedo comanda o tênis de mesa desde 1995, enquanto Vicente Fernando Blumenschein está à frente do tiro com arco desde 1999 e Helio Meirelles Cardoso preside a Confederação de Pentatlo Moderno desde 2002. A de ciclismo tem o mesmo presidente, José Luiz Vasconcellos, há 12 anos.
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