Bretas confunde comitês e determina prisão preventiva de Nuzman
O juiz federal Marcelo da Costa Bretas, da 7ª Vara Criminal da Justiça Federal no Rio, responsável pela Lava Jato no estado, determinou nesta segunda-feira a prisão preventiva de Carlos Arthur Nuzman, detido desde quinta-feira. Com isso, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que antes cumpria prisão provisória por cinco dias, agora ficará detido por tempo indeterminado. Ainda nesta segunda-feira, porém, o desembargador federal Abel Gomes deverá analisar pedido de habeas corpus protocolado no sábado pela defesa de Nuzman.
No mesmo despacho que determinou a prisão preventiva de Nuzman, acatando pedido do Ministério Público Federal do Rio (MPF-RJ), feito mais cedo, Bretas também determinou a prorrogação da prisão provisória de Leonardo Gryner, braço-direito de Nuzman e ex-diretor de operações do Comitê Organizador Rio-2016. Ambos foram presos inicialmente por cinco dias e, agora, Gryner deverá permanecer em Benfica por outros cinco.
O juiz, porém, confundiu fatos para determinar a prisão de Nuzman. Bretas alega que, entre as apreensões, está um e-mail em que Nuzman informa a funcionário do "comitê" que foi aprovado em reunião o pagamento de R$ 5,5 milhões ao escritório Nélio Machado Advogados e que o pagamento estaria "autorizado e deve ser realizado e efetivado". O funcionário é Mário Andrada, diretor de comunicações da Rio-2016.
"Tal documentação demonstra o poder que Nuzman ainda exerce junto ao Comitê Olímpico Brasileiro (que na verdade se chama "do Brasil") bastando um e-mail seu para que fosse efetivado o pagamento da cifra de R$ 5,5 milhões para prestação de serviços advocatícios, antes mesmo da sua aprovação em reunião do Comitê", escreve Bretas. Tudo isso, porém, não aconteceu no COB, mas no Comitê Rio-2016, como mostra a nota-fiscal de R$ 5,5 milhões à qual o Olhar Olímpico teve acesso.
De acordo com o Comitê Rio-2016, apesar do e-mail de Nuzman, a nota foi rejeitada pelo Conselho Diretor do órgão. Ou seja: o comitê não aceitou pagar a conta dos advogados que defendem o dirigente. Mesmo assim, Bretas argumenta que a influência de Nuzman no COB, entidade que ele preside há 22 anos, "fica clara" com a situação de ter bastado um e-mail de Nuzman "para efetivar o pagamento de R$ 5,5 milhões".
O próprio MPF, aliás, induziu Bretas ao erro. No pedido de prisão, os procuradores apresentam a troca de e-mails entre Nuzman e Andrada, referente ao pagamento que o Rio-2016 deveria efetuar, e argumentam que isso mostra que Nuzman "continua a atuar em benefício próprio, usando instrumentos do COB".
Nuzman solicitou na sexta-feira seu afastamento da presidência tanto do COB quanto da Rio-2016. No primeiro, uma assembleia geral está marcada para a próxima quarta-feira, no Rio. No segundo, uma reunião do Conselho Diretor deverá escolher um novo presidente. O encontro deve ocorrer esta semana, mas ainda não está agendado.
Decisão – Em seu despacho, Bretas ainda determinou que o COB e o Comitê Rio-2016 apresentem em 24 horas os dados referentes aos e-mails trocados por Maria Celeste de Lourdes Campos Pedroso, secretária pessoal de Nuzman. De acordo com a denúncia do MPF, a polícia federal não conseguiu acessar os e-mails dela no momento do cumprimento do mandado de busca e apreensão, na quinta.
No domingo, o Fantástico, da Rede Globo, mostrou que Maria Celeste depôs aos procuradores da Força-Tarefa da Lava Jato no Rio e revelou que diversas vezes foi cobrada por Papa Diack a respeito de um depósito. Para os procuradores, trata-se da cobrança referente aos valores combinados para a compra do voto do dirigente senegalês da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Lamine Diack, pai de Papa. As mensagens de e-mail enviadas por Diack a Maria Celeste estão entre as provas que levaram ao primeiro pedido de prisão de Nuzman.
De acordo com o despacho de Bretas, durante a busca e apreensão na casa de Nuzman, na quinta, foram encontradas, na pasta de mão que estava guardada em seu quarto de dormir, cópias impressas dos e-mails encaminhados por Papa Diack, a respeito das supostas cobranças de pagamentos feitas ao próprio Nuzman e a Leonardo Gryner.
"Embora não se possa criticar a simples posse de tais documentos, o episódio reforça a suspeita de que as informações ali constantes são de extraordinária importância para o esclarecimento dos fatos", argumenta Bretas em sua decisão.
Para manter Léo Gryner preso por mais cinco dias, Bretas argumenta que o investigado "aparentemente" tem grande
influência perante o COI e o COB, ainda que não tenha cargo em nenhum dos dois órgãos. Assim, a renovação da prisão por mais cinco dias se deu "diante da possibilidade de o investigado exercer o seu poder de influência em detrimento do andamento das investigações". De acordo com o MPF, ainda há "grande quantidade de informações" contidas em documentos e aparelho celular deles a ser analisada.
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