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Olhar Olímpico

Advogado nega R$ 5,5 milhões e diz que acusação contra Nuzman é 'ficção'

Demétrio Vecchioli

09/10/2017 22h12

Dono do escritório de advocacia que defende Carlos Arthur Nuzman no processo que está correndo na 7ª Vara Criminal Federal do Rio, Nélio Machado nega que sua empresa tenha recebido R$ 5,5 milhões do Comitê Organizador dos Jogos Rio-2016, como consta na denúncia do Ministério Público Federal do Rio (MPF-RJ) e no mandado de prisão preventiva expedido nesta segunda-feira pelo juiz federal Marcelo Bretas.

Argumentando que Nuzman continua controlando o comitê em benefício próprio, o MPF-RJ juntou ao pedido de prisão uma troca de e-mails entre Nuzman e Mario Andrada, diretor de comunicação do Comitê Rio-2016, no qual o presidente da entidade avisa que o Conselho Diretor aprovou o pagamento de R$ 5,5 milhões ao escritório de Nélio e determina que o pagamento seja "realizado e efetivado".

O e-mail é do dia 29 de setembro, mas Machado afirma que não recebeu o recurso. "Formulei uma proposta de orçamentos, para atender em tudo quanto fosse necessário com relação à investigação que começou no ministério público da França. O Conselho Diretor sempre definiu tudo de forma unânime, mas dessa vez dois integrantes foram contra. Quando soube disso, disse: 'Vamos cancelar a nota'. Não quero receber nada sem que haja unanimidade. Não vou receber, vou discutir isso depois", garantiu ao Olhar Olímpico.

Machado alega que a nota foi cancelada no dia 2 de outubro, terça-feira passada, três dias antes da prisão de Nuzman. "Estou atendendo por uma questão humanitária. Eu não mais discuti esse assunto, que vai ser recolocado na mesa mais adiante."

O escritório dele, criminal, já defendeu a Rio-2016 e seus dirigentes em contrato anterior, firmado em outubro passado, quando um processo corria na 10ª Vara Criminal do Rio e pedia quebra de sigilo fiscal do comitê. Machado diz não se lembrar quanto recebeu pelo processo, vencido por ele – o pedido do Ministério Público foi recusado na ocasião.

Agora, ele seria contratado para defender não apenas o Comitê Rio-2016 mas todos os funcionários que continuam lá. O contrato, bancado pela Rio-2016, abrangeria também funcionários e dirigentes do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Defesa – Na manhã desta terça-feira, Machado deve protocolar um novo pedido de habeas corpus para Nuzman diante do desembargador federal Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª região (TRF2). O primeiro pedido, protocolado no sábado, só chegou às mãos dele nesta segunda-feira e não foi julgado antes de Bretas decretar a prisão preventiva de Nuzman.

Para Machado, a acusação é uma peça de ficção. "Ele não cometeu crime algum. É tarefa relativamente simples, mas não fácil,  mostrar a improcedência dessa acusação contra ele. É uma novela televisiva: vai acabar 'A Força do Querer' e vai começar o 'A Força do Perseguir"', ironizou o advogado.

Entre as alegações, ele refuta que Nuzman tenha tomado decisões em nome da Rio-2016 – de fato, o comitê só aprovava contratações acima de R$ 300 mil via Conselho Diretor -, argumenta que não há no Brasil o crime da corrupção em empresa privada e lembra que, para qualquer crime, a lei brasileira diminuiu o tempo de prescrição pela metade para pessoas com mais de 70 anos – caso de Nuzman.

Além disso, comenta que o MPF-RJ tem tentado imputar ao cliente dele o crime de organização criminosa, que só se foi incorporado ao código penal brasileiro em 2013, depois, portanto, do episódio da suposta compra de votos na eleição para a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016, em 2009.

"A ideia da acusação se baseia numa enorme criação mental. O Nuzman teria atraído a Olimpíada para enriquecer junto com o (Sergio) Cabral (ex-governador do Rio) a partir de contratos públicos. Essa é uma ideia que só exige na imaginação fértil de quem apresentou isso. É uma tese que não se prova nem no céu, nem no mar, nem na terra. Se fosse por esse critério, o prefeito do Rio (Eduardo Paes, com muito mais razão, deveria ser envolvido em uma acusação qualquer", ataca Machado.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.