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Olhar Olímpico

Ex-secretário geral da ONU já mostra serviço no COI e Tóquio fica sob risco

Demétrio Vecchioli

06/10/2017 12h25

(AP Photo/Ahn Young-joon)

Exatamente três semanas depois de ser eleito presidente da Comissão de Ética do Comitê Olímpico Internacional (COI), o sul-coreano Ban Ki-moon já mostrou a que veio. Dentro de suas atribuições, pediu a suspensão do brasileiro Carlos Arthur Nuzman pela suspeita de compra de votos na eleição da sede dos Jogos de 2016. Mas o COI foi ainda adiante, suspendendo também o Comitê Olímpico do Brasil (COB). O pulso firme, se mantido, pode colocar em risco também a próxima Olimpíada de Verão, em Tóquio.

É que, ao que tudo indica, o membro honorário do COI Lamisa Diack, de Senegal, não vendeu seu voto só ao Brasil, em 2009, mas também a Tóquio, quatro anos depois. E os indícios são os mesmos que levaram Nuzman a ser investigado pelo Ministério Público Federal do Rio (MPF-RJ) e por autoridades francesas: depósitos em contas ligadas a Diack na véspera da eleição.

Em maio do ano passado, o jornal britânico The Guardian fez a denúncia de que o comitê de candidatura de Tóquio fez um dois depósitos, totalizando 1,7 milhões de euros, em contas de uma empresa chamada Black Tidings, que seria ligada a Papa Diack, filho de Lamisa. Ambos os depósitos foram realizados poucas semanas antes da votação ocorrida em Buenos Aires.

O ministério público da França também está investigando essa movimentação porque, logo depois de receber o segundo pagamento, a Black Tidings transferiu 85 mil euros para uma conta em Paris, possivelmente para comprar os relógios de luxo que Diack costuma presentear dirigentes.

Por enquanto, as investigações com relação à suspeita de compra de votos por parte dos japoneses não é conclusiva, até porque a empresa que recebeu os pagamentos em Cingapura não pertence diretamente aos Diack, mas a Ian Tan Tong Han, um amigo próximo da família. O comitê de Tóquio alega que Han prestou serviços de consultoria.

Não que comprar votos na eleição das sedes olímpicas seja algo inventado por Diack ou pelo Rio. Em diversas eleições houve suspeitas. Algumas mais e outras menos documentadas. Em 1999, por exemplo, o COI expulsou seis membros que comprovadamente venderam seus votos para que Salt Lake City fosse escolhida sede da Olimpíada de Inverno de 2002.

Mesmo os Jogos de Inverno em Nagano, em 1998, tiveram suspeita semelhante, com os japoneses pagando viagens luxuosas a eleitores do COI. O próprio presidente do COI, então o espanhol Juan Antonio Samaranch, foi colocado em uma suíte presidencial por 30 dias. Até prostitutas teriam sido contratadas – o que os envolvidos sempre negaram.

 

Passados mais de 20 anos daquele escândalo, agora o COI decidiu enfim ter pulso firme. E, para legitimar essa postura, elegeu como presidente da Comissão de Ética um ex-secretário geral da ONU, que deixou o cargo elogiadíssimo. O sul-coreano Ban Ki-moon chegou respaldado e de cara mostrou a que veio. Se antes o COI só suspendia comitês olímpicos internacionais quando eles sofriam interferências governamental – ou seja, num jogo político – agora, a corrupção também será levada em consideração.

Na sua recomendação, acatada pelo Comitê Executivo do COI, Ki-moon lembra que os fatos relacionados às acusações contra Nuzman afetam a reputação do COI. Além de ser suspenso como membro honorário do COI, o brasileiro foi retirado de forma definitiva da comissão do comitê olímpico que cuida dos Jogos de Tóquio.

Para suspender o COB, o COI alegou que o comitê brasileiro era o responsável pelo comitê de candidatura que é acusado de comprar votos. Na candidatura de Tóquio, vale lembrar, também foi assim. Se a suspeita relativa à escolha dos Jogos de 2020 também for comprovada, o COI teria que tomar a mesma atitude e suspender o comitê olímpico japonês às vésperas da Olimpíada, cortando sua única fonte de renda, que são os patrocinadores olímpicos – o comitê do país "da casa" não pode firmar contratos individuais.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.