Arqueiro fica sem treinador após Rio-2016 e tem que treinar sozinho

(Crédito: Xinhua/Wang Haofei)

Há dois anos, Marcus Vinicius D'Almeida era uma das vitrines do esporte brasileiro. Jovem talento descoberto durante a preparação para a Olimpíada, competiria em casa com chances de levar o Brasil ao pódio em um esporte em que o país tem pouquíssima tradição: o tiro com arco. Um conto de fadas que acabou. O garoto, que há duas semanas bateu o recorde brasileiro, voltou a ser só mais um. Perdeu treinador, preparador físico e toda a estrutura que a confederação lhe oferecia. Agora, treina sozinho.

Contratado pela Confederação Brasileira de Tiro com Arco com recursos da Lei Agnelo/Piva, o italiano Renzo Ruele chegou em julho de 2014 ao Brasil, exatamente para tentar lapidar o talento de Marcus Vinicius, que um mês depois seria medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude e, no fim do ano, prata no Mundial adulto. Passada a Olimpíada, porém, o contrato dele acabou e não foi renovado.

A ótima estrutura oferecida até então pela CBTArco também virou farelo. O centro de treinamento montado no Círculo Militar de Campinas foi desfeito, assim como a comissão técnica. Cada atleta voltou ao seu clube. Entre eles, Marcus Vinicius, para o CT da Iris, em Maricá, no litoral do Rio.

Lá, ele até poderia voltar a trabalhar com Dirma Miranda, técnica que o revelou e que atualmente é a treinadora da seleção brasileira de base. Mas o arqueiro, que foi eliminado de forma precoce na primeira rodada da Olimpíada, já não se encaixa mais no método de treinamento da antiga tutora.

"Ela me ajuda quando pode, mas eu treino do meu jeito. Eu que programo o número de flechas, a intensidade. Às vezes tem um toque dela, tem umas semanas que ela opina mais, às vezes não opina nada, mas eu que faço minha carga horária. Por tudo que eu vivi, como eu treinei, eu identifiquei como e quando eu quero treinar. Eu aprendi e hoje eu sigo o meu método", diz Marcus Vinicius.

Estudante do segundo ano de educação física, o arqueiro, que é beneficiado com a Bolsa Pódio, também passou a montar também ele mesmo os seus treinos físicos. "O Comitê Olímpico do Brasil (COB) oferece uma estrutura no Maria Lenk e agora eles estão oferecendo de mandar alguém para Maricá também", contou.

No começo do ano, em um momento de desmotivação, Marcus teve o apoio de um amigo arqueiro para viajar para a Europa, reencontrar Renzo, competir e conhecer outros treinadores. Em 40 dias, passou por quatro países. "Gostei bastante e vou ver se vou ano que vem de novo. Conversei com a confederação e eles falaram que podem conseguir me ajudar."

Apesar das dificuldades, Marcus Vinicius vive bom momento da carreira. Durante uma etapa do Campeonato Carioca, somou 682 pontos, novo recorde brasileiro, melhorando em 11 pontos a antiga marca, que ele repetiu cinco vezes durante a carreira e na qual estava estacionado.

Desde segunda-feira, ele está participando, na Argentina, do Mundial Júnior de Tiro com Arco. Atual campeão individual, ajudou o Brasil a chegar até a semifinal por equipes. Ali, perdeu na flecha de desempate tanto na semi, para a Índia, quanto na disputa do bronze, para a Rússia. No individual, caiu na terceira rodada, para um atirador indiano.

Daqui a duas semanas, a partir do dia 15, ele disputa na Cidade do México o Campeonato Mundial adulto. A equipe brasileira, porém, será formada apenas por atiradores juniores. Não por decisão da comissão técnica ou da confederação, mas porque os juniores ficaram à frente dos adultos na seletiva.