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Olhar Olímpico

Evento comprou uniformes com dinheiro público, mas não entregou a atletas

Demétrio Vecchioli

04/10/2017 15h26

Nota fiscal emitida pela ELS. Detalhe para o e-mail do prefeito contratante: "Gilmar delegado"Ainda que tenha recebido recursos públicos para comprar 615 protetores bucais e igual número de shorts, os organizadores do "Circuito Brasileiro de Submission – etapa Nordeste" não os entregaram à maior parte de 200 atletas que participaram da competição, em março. Mais cedo, o Olhar Olímpico contou em detalhes como se deu a fraude que desviou mais de R$ 1,6 milhão dos cofres públicos neste evento.

Após a publicação da reportagem, atletas que participaram da competição em Itatim, no interior da Bahia, aceitaram conversar com o blog. Três lutadores relataram a mesma situação. No segundo dos três dias de competição, eles de fato receberam um kit com mochila, sandália e camiseta. Mas os organizadores, que prometeram entregar também entregar protetor bucal e shorts, alegaram que os produtos já haviam acabado.

A competição foi realizada com recursos do Ministério do Esporte, repassados à prefeitura de Itatim, uma cidadezinha de 15 mil habitantes. O torneio, na prática, foi organizado pela Confederação Brasileira de Lutas Submission (CBLS), que recebeu R$ 100 mil para oferecer árbitros e um palestrante.

Todo o restante do dinheiro, R$ 1,5 milhão, foi gasto em uma grande compra junto à ELS Promoções, que fica no mesmo endereço da CBLS, em São Paulo. A ELS emitiu nota fiscal garantindo ter entregue os produtos. Cobrou R$ 35 por cada shorts e R$ 30 pelos protetores buscais. Ainda vendeu camisetas(R$ 20), sandálias (R$ 20), mochilas e medalhas (de R$ 15 a R$ 20).

Ao Ministério do Esporte, a prefeitura de Itatim afirmou que o evento foi realizado como programado, ainda que o governo tenha pagado por um torneio de 11 dias que, na verdade, durou só três. A conta de 600 competidores não bate. Os atletas que conversaram com o Olhar Olímpico relataram que cada chave tinha no máximo 25 lutadores e que foram realizadas apenas três delas por dia.

Ainda que seja irregular o pagamento de premiação em dinheiro a eventos realizados com recursos advindos de convênios, os campeões receberam R$ 300, como mostra o material de divulgação do campeonato, ainda disponível nas redes sociais.

Além disso, diferente do que foi prometido ao Ministério do Esporte, foi cobrada taxa de inscrição. Só puderam participar da competição os atletas que se filiassem à Federação Baiana de Jiu-Jitsu e MMA, que cobrou R$ 30 de cada atleta. Foi ela quem forneceu arbitragem para a competição.

Uma vez que Itatim fica distante mais de 200 quilômetros de Salvador, os organizadores disponibilizaram um ônibus para levar os atletas até o local da competição. O convênio previa três destes veículos, além de cinco vans, trabalhando de nove a 11 dias.

O Olhar Olímpico voltou a procurar Elisio Macambira, que assinou o contrato em nome da CBLS e se apresentou o tempo todo como presidente da entidade, ainda que não seja mais, e também o prefeito de Itatim, Tingão. O primeiro não atendeu as ligações, assim como o assessor de imprensa do segundo.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.