Topo

Olhar Olímpico

Sem patrocinadores, torneio de fim de ano de futebol feminino é cancelado

Demétrio Vecchioli

30/09/2017 04h00

(Julia Chequer/Folhapress)

O torcedor acostumado a acompanhar a seleção brasileira feminina de futebol todo fim de ano desta vez vai ficar a ver navios. O tradicional Torneio Internacional, que já teve oito edições, não será realizado em 2017. Responsável pela organização, a empresa Sport Promotion, que teve prejuízo em todos os eventos anteriores, diz que não tem condições de ficar no negativo mais uma vez. Afinal, não encontra patrocinadores dispostos a investir na modalidade.

Quer dizer, patrocinador tem. Um: a Caixa Econômica Federal. "Se não fosse a Caixa, não existiria futebol feminino no Brasil", resume Alfredo Carvalho, diretor comercial da Sport Promotion, que também é a organizadora do Campeonato Brasileiro Feminino de Futebol. Há cinco anos a Caixa patrocina a competição com um investimento de R$ 10 milhões. Neste ano, a competição foi expandida, de 60 para 184 jogos.

Carvalho conta que os números de audiência na televisão e os relatórios de exposição de marcas comprovam que investir em futebol feminino é interessante. Mas que, exceto a Caixa, nenhuma outra empresa quer fazer esta aposta. "A restrição ainda é do mercado publicitário, que ainda tem algum tipo de preconceito com futebol feminino", diz.

"É desagradável quando visita um determinado cliente, mostra que tem audiência, tem publico, tem interesse, o valor a ser investido é relativamente modesto. Depois de esgotada toda a argumentação, o cara vira e fala: 'Ah, mas eu não gosto de futebol feminino'. Profissionalmente não haveria razão para não participar, mas ele vira e fala que não gosta. É puro preconceito", avalia Carvalho.

Ele comanda uma empresa que tem expertise na organização de competições. É a Sport Promotion quem comercializa as Séries B e C do Brasileirão, os Brasileiros e as Copas do Brasil Sub-17 e Sub-20 e já tem tudo negociado para colocar em prática o Brasileiro Sub-23 no mês que vem. As portas abertas até para a base, porém, são fechadas para as mulheres.

O chamado Torneio Internacional de Futebol Feminino, tradicionalmente exibido pela Band, teve sua primeira edição em 2009, no Pacaembu. Sempre entre o fim da temporada masculina e as festas de fim de ano – ou seja, em um período de carência de futebol -, a competição amadora teve ainda duas edições em Brasília, uma em Natal e a mais recente em Manaus, sempre em estádios de Copa do Mundo. Segundo Carvalho, em absolutamente todas as vezes a organizadora teve prejuízo.

Este ano, com a crise no mercado publicitário e uma margem mínima sobre o Brasileirão Feminino, não havia como bancar o prejuízo.  "O mercado está muito muito muito ruim em termos publicitários. Tivemos que avaliar o que era mais importante: dar sequência aos últimos anos, em que a gente vinha fazendo o torneio com perdas significativas ou tentarmos colocar, como fizemos, para o ano que vem, procurando incentivar por Lei de Incentivo, e ter um prejuízo menor."

O projeto de Lei de Incentivo já foi aprovado e a edição de 2018, assim, fica garantida. Até porque, como 2019 é ano de Mundial, a tendência é que equipes de melhor calibre aceitem o convite para o torneio de preparação no fim da próxima temporada – em 2014, em situação idêntica, os Estados Unidos enfim aceitaram participar. A prioridade é jogar em São Paulo, mas a Bahia também fez proposta para que o torneio ocorra na Arena Fonte Nova.

O empresário espera que, até lá, continue uma escalada positiva no futebol brasileiro feminino. Na atual temporada, recordes de público foram batidos no Amazonas, onde as partidas decisivas do Iranduba tiveram até 25 mil torcedores, e em São Paulo, onde o Santos decidiu o Brasileirão contra o Corinthians com a Vila Belmiro completamente lotada.

Além disso, ela aponta como fatores positivos a exigência da CBF de que os grandes clubes mantenham equipes femininas e a transmissão de todas as rodadas do Brasileiro pelo SporTV. Mas admite que o fato de as melhores jogadoras do país estarem no exterior não ajuda. Na primeira convocação do técnico Vadão, realizada nesta sexta, só duas atletas defendem clubes brasileiros. Ambas jogam pelo Santos, que, neste sábado, pega o Rio Preto, em Mirassol, na primeira partida da decisão do Campeonato Paulista. A volta é na semana que vem, na Vila.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.