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Olhar Olímpico

COB vê falha em revelação de atletas e quer detectar talentos na escola

Demétrio Vecchioli

22/09/2017 04h00

Rebeca Andrade, Flavia Saraiva e Thauany Araújo na primeira edição dos Jogos Sul-Americanos da Juventude (divulgação)

Não é segredo para ninguém: o Brasil falha ao não conseguir atrair os jovens para o esporte ainda na escola. Uma função que deveria ser de governos municipais, estaduais e federal e que nem de longe é cumprida em nível satisfatório. Essa estrutura falha na base é sentida também na ponta da pirâmide, no altíssimo rendimento. Quanto menos talentos um país forma, menos medalhas ele ganha nos Jogos Olímpicos. Uma avaliação óbvia que finalmente foi admitida pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), que resolveu agir.

Se tradicionalmente o COB se portou unicamente como o órgão responsável por organizar as missões brasileiras em alguns poucos eventos organizados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), sendo os Jogos Olímpicos de Verão o mais importante deles, agora a entidade passou a assumir também a responsabilidade na formação de atletas, prerrogativa que deveria ser dos governos.

Nesse sentido, o COB criou, no fim do ano passado, uma área interna de Identificação e Desenvolvimento de Talentos, comandada pelo gerente Sebastian Pereira, ex-judoca. A premissa é juntar os esforços de diversos entes, entre eles prefeituras, secretarias municipais e estaduais de esporte e de educação, federações estaduais, clubes, confederações, forças armadas, ministério da educação e por aí vai.

"A confederação tem um papel fundamental, mas ela não pode ser a única responsável pela detecção de atletas. A gente costuma falar do talento, mas ele não se cria sozinho. Precisamos integrar com outros agentes, escolas, secretarias, ministério, clubes. Todos eles já fazem esse processo de detecção de talentos, mas não de forma integrada",avalia Pereira.

Segundo ele, o COB quer ser mais proativo para integrar essas ações. "Se a gente não fizer um trabalho de equipe, a gente não vai conseguir sair do lugar", admite, evitando colocar o Ministério do Esporte, que pode perder 87% da sua verba para o ano que vem, como responsável natural por esse papel. "Precisamos fazer um movimento cíclico dentro do esporte. Se a gente não fizer isso, ainda vai continuar engatinhando. A gente (o COB) não pode botar a mão, pode mas reunir todos esses agentes, reunir quem quiser trabalhar em conjunto com a gente para facilitar o acesso desses jovens e proporcionar essa oportunidade."

Ainda que a gerência só tenha sido criada depois da Rio-2016, Sebastian vem trabalhando neste projeto há mais de dois anos. Um experimento foi colocado em prática recentemente no Rio, onde os professores de educação física de 13 escolas, todas elas próximas Centro de Treinamento da Universidade da Força Aérea (UNIFA), avaliaram mais de 2 mil alunos para identificar potenciais atletas do atletismo. Os selecionados foram convidados a treinar no CT que serviu como uma das bases do Time Brasil em 2016 e agora são orientados por profissionais da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt)

A ideia é que o modelo seja replicado para outros núcleos pelo país a partir de 2018. Os próximos passos são terminar de criar a metodologia de trabalho, produzir os manuais de treinamento e, enfim, aplicar o curso para os professores das áreas escolhidas. A partir daí, sempre com propostas de clubes, ONG's, confederações, começar a implantar os núcleos, que por enquanto serão de judô, atletismo, natação e ginástica, apenas. Depois, a proposta é expandir.

Cada vez mais cedo –  O projeto tem uma consequência óbvia. Acostumado a começar a trabalhar diretamente com o atleta a partir do momento em que ele chega ao alto rendimento, agora o COB vai se aproximar do jovem antes mesmo de ele se iniciar no esporte.

"A gente vai ter que chegar no jovem mais cedo, para poder influenciar positivamente essa cadeia. Influenciar não somente os jovens, mas também os pais. Estamos trabalhando na iniciação do esporte, que é a primeira etapa, seguida de identificação, confirmação, e, a partir daí, o desenvolvimento. Temos que impactar positivamente", avalia.

Como o projeto está em fase embrionária e visa jovens que ainda irão começar a treinar, o impacto no alto rendimento demorará a ser sentido, o que não deve acontecer antes dos Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles.

Por enquanto, o COB trabalha para dar experiência à jovem geração que pensa em Tóquio-2020. Na semana que vem, começa a segunda edição dos Jogos Sul-Americanos da Juventude, em Santiago, para atletas de até 18 anos. A delegação brasileira terá 150 atletas, cota máxima permitida, em 21 modalidades. O evento serve como preparação para os Jogos Olímpicos da Juventude, a serem disputados em Buenos Aires.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.