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Olhar Olímpico

Sem verba para confederações, Esporte banca R$ 2,7 milhões para militares

Demétrio Vecchioli

18/09/2017 10h28

Enquanto as confederações ligadas ao Comitê Olímpico do Brasil (COB) mostram cada vez mais preocupação com a falta de ajuda federal para promover treinamentos e organizar competições, o Ministério do Esporte resolveu tirar dinheiro do seu orçamento para bancar eventos restrito a militares. São R$ 2,7 milhões liberados para os Mundiais Militares de Natação e Vôlei de Areia, ambos previstos para serem realizados no Rio.

Desde o fim de 2015, quando chegou ao fim um período de fartura no Ministério do Esporte, com dezenas de convênios com as confederações para compras de materiais esportivos, contratações de técnicos, realização de eventos internacionais e preparação de atletas, sempre visando a Rio-2016, apenas quatro convênios foram firmados pelo ME com entidades da sociedade civil.

Destes, apenas um beneficiou uma confederação olímpica, a de surfe, que recebeu R$ 223 mil para enviar seus atletas para o Mundial da modalidade – como ainda não foi reconhecida pelo COB, a Confederação Brasileira de Surfe não recebe recursos da Lei Agnelo/Piva. É a mesma situação da Confederação Brasileira de Desportos para Surdos, que levou R$ 1,5 milhão para que o Brasil disputasse a Surdolimpíada. Os outros convênios, de 2016, somando R$ 8 milhões, foram com a Confederação Brasileira de Desporto Universitário (CBDU), também para a participação em competições.

Neste meio-tempo, desde antes da Olimpíada, o Brasil deixou de realizar eventos internacionais de esportes olímpicos. Mesmo eventos tradicionais, como a etapa do Circuito Mundial de Maratonas Aquáticas, não foram mais realizados por aqui. As raras exceções foram eventos dos circuitos de vôlei de praia (no Parque Olímpico da Barra), badminton (no Paulistano, em São Paulo), tênis de mesa (no Centro Paraolímpico, também em São Paulo) e de esgrima (no Rio). Nenhum deles com ajuda do Ministério do Esporte.

Nesta segunda, porém, o Diário Oficial da União (DOU) trás os dois convênios firmados com o Departamento de Desporto Militar do Ministério da Defesa, de R$ 1,181 milhão (natação) e R$ 1,510 milhão (vôlei de praia). Os documentos que detalham como o dinheiro será investido ainda não foram jogados no Sincov, o sistema que dá transparência a esses recursos.

O Mundial Militar de Vôlei de Praia deverá ser realizado no Centro Olímpico de Tênis, entre no Parque Olímpico da Barra, entre os dias 8 e 12 de novembro, com um "dia cultural" sem competições no meio. Vale ressaltar que, como o vôlei não é um esporte que desenvolva diretamente algum atributo necessário no trabalho militar, não é comum que a modalidade tenha atletas de alto rendimento militares – a regra não vale para o Brasil, onde boa parte da elite do esporte é militar.

Já o Mundial Militar de Natação está programado para acontecer entre 12 e 15 de novembro, também no Rio, mas não há nenhuma informação no site do Conselho Internacional de Esporte Militar (CISM) sobre o local de realização do torneio. De acordo com o site Best Swim, a competição será na Universidade da Força Aérea (UNIFA), em Campo dos Afonsos.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.