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Olhar Olímpico

Legado Olímpico gasta R$ 1,5 milhão para Rock in Rio ter 'supertela'

Demétrio Vecchioli

15/09/2017 04h00

Para garantir que as instalações olímpicas sejam "sustentáveis", a Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO) investiu pesado e vai ficar no prejuízo. Visando viabilizar a instalação de uma "supertela" de games durante o Rock in Rio, o órgão ligado ao Ministério do Esporte firmou esta semana um contrato de R$ 1,5 milhão sem realizar licitação. Em troca do aluguel do espaço por até dois meses, vai ganhar apenas R$ 880 mil e em permutas, incluindo "ações de marketing". A AGLO só não diz quais.

Pela primeira vez, este ano o Rock in Rio vai ser realizado no Parque Olímpico da Barra. O evento a céu aberto vai ocupar área que pertence à iniciativa privada, mas também alugou as duas "Arenas Cariocas" que estão sob administração da AGLO. A partir desta sexta-feira, a Arena 1 vai receber o Game XP, onde será instalada a maior tela do mundo para games, enquanto que a Arena 2 terá a Expo Play, uma feira do segmento. Ambas, realizadas em parcerias entre o Rock In Rio e a Comic Con.

Só que, para viabilizada a instalação desta "supertela", como o Rock in Rio tem chamado o telão onde serão realizados os games, era necessária a contratação de um eletrocentro. Mesmo sem concluir os estudos que determinariam se a estrutura é mesmo necessária, a AGLO resolveu fazer o investimento. Sem realizar licitação, contratou na segunda-feira a "A Geradora" por R$ 1,488 milhão, para atender não só as Arenas 1 e 2, mas também a 3, administrada pela prefeitura. O tempo de contrato, questionado pelo blog à AGLO, não foi informado.

Em nota, a AGLO explicou que não houve licitação porque a "A Geradora" é "a única empresa a já ter desenvolvido os equipamentos necessários para prestação do serviço". A entidade alega que os valores são "muito inferiores àqueles praticados durante os Jogos Rio- 2016" e admitiu que "estuda alternativas técnicas para avaliar se é economicamente viável a eliminação dos eletrocentros e adaptação das arenas a outra forma que lhes garantam suprimento de energia".

Enquanto não toma a decisão sobre a eliminação dos eletrocentros, em um momento no qual não tem a previsão de receber mais nenhum evento de porte sequer médio nas arenas, a AGLO optou por fazer a contratação alegando que precisava "regularizar o fornecimento da energia para as arenas com uma cobertura contratual" porque ela "autoriza eventos como Game XP e Comic Con", que irão "garantir a sustentabilidade do legado".

Aluguel – A sustentabilidade do legado, porém, não vê as contas fecharem. Para ceder o Centro Olímpico de Tênis à Rock World (organizadora do Rock in Rio) e as Arenas 1 e 2 à Rock World e à  CCXP Eventos (Comic Con), a AGLO determinou como preço respectivamente R$ 280 mil e R$ 600 mil. No primeiro caso, a estrutura ficará dois meses com os contratantes (28 de agosto a 28 de outubro). No segundo, por um mês e meio, entre 20 de agosto e 3 de outubro.

Nenhum dos dois pagamentos, porém, serão realizados em dinheiro. Para usar o Centro Olímpico de Tênis, a Rock World se comprometeu a "construir quadra de areia poliesportiva" e realizar "melhoria da infraestrutura das áreas administradas pela AGLO". Em maio, quando cedeu o local à Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para a realização de uma etapa do Circuito Mundial de Vôlei de Praia, a AGLO também exigiu em contrato a "construção de quadra para esportes de areia", detalhando a doação de mil metros cúbicos de areia, no valor de R$ 130 mil, e "demais implementos necessários".

Questionada, a AGLO diz que o o Centro Olímpico de Tênis terá apenas uma quadra de areia, mas não explicou porque cobrou de dois contratantes diferentes o mesmo serviço. Revelou apenas que a quadra até agora não foi construída.

Já o aluguel das Arenas 1 e 2 durante o Rock in Rio foi acertado em troca de "melhoria da infraestrutura das áreas administradas pela AGLO e em ações de marketing", em um valor total de R$ 600 mil. O blog perguntou à AGLO e ao Rock In Rio como exatamente seria feito o pagamento e o que seriam as "ações de marketing", mas não recebeu resposta.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.