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Olhar Olímpico

CBB minimiza fracassos de seleções e sonha ter ao menos 3 patrocinadores

Demétrio Vecchioli

12/09/2017 04h00

(Divulgação)

A seleção feminina está fora do próximo Campeonato Mundial. A masculina foi eliminada de forma vexatória da Copa América e não disputará os Jogos Pan-Americanos em 2019. Esportivamente, a gestão de Guy Peixoto começou mal frente à Confederação Brasileira de Basquete (CBB). A nova diretoria da entidade, porém, está otimista de que isso não afetará a prioridade número 1, que é a busca por patrocínios.

"Os valores que estamos pedindo são compatíveis com o mercado. O projeto foi bem explicado para cada um dos possíveis patrocinadores. Hoje nem o próprio COB dá esse valor ao Pan, que não é classificatório para a Olimpíada. No caso do feminino, estávamos desfalcado de nossas cinco melhores jogadoras. Com elas, teríamos sido campeões da Copa América", diz Carlos Fontenelle, secretário-geral e agora o porta-voz da entidade.

Procurar patrocinadores é fundamental porque os recursos privados são a única forma possível de se pagar as dívidas da entidade. Quando Carlos Nunes deixou o comando da CBB, em março, falava-se em uma dívida na ordem de R$ 17 milhões. Em agosto, o GloboEsporte.com publicou que esse valor chegou a R$ 46 milhões em uma auditoria contratada pela nova gestão.

Em contato com o Olhar Olímpico, Fontenelle não quis falar sobre esses números, apenas confirmou que de fato a dívida é maior do que se imaginava. Nesta terça-feira, ele estará em audiência pública na Comissão de Esporte da Câmara dos Deputados para tratar da crise da CBB, em evento no qual também é esperada a presença de Carlos Nunes. De acordo com Fontenelle, a orientação dos advogados é só falar a respeito da dívida quando o balanço final da auditoria fora entregue, o que deve acontecer na semana que vem.

De qualquer forma, é fato que a CBB precisa de dinheiro extra, porque o dinheiro público não pode ser usado para quitar dívidas. Depois de ficar mais de seis meses sem receber recursos da Lei Agnelo/Piva, as transferências foram regularizadas em julho. O que significa que o dinheiro que deveria dar para o ano todo entrará nas contas da entidade durante apenas seis meses. Como Guy pagou do bolso muitas contas, o ano deve fechar.

Para isso, porém, a estrutura teve que ser diminuída. De 30 funcionários de escritório, a CBB passou a ter 15. Por outro lado, com Gui, chegaram quatro executivos, entre eles o próprio Fontenele. CEO da Copa do Mundo, Ricardo Trade, o Baka, também chegou para ajudar. Nenhum deles, porém, está recebendo salários compatíveis com os cargos. "Hoje estão todos acreditando no projeto. Todos os executivos estão investindo com a nova gestão", afirma Fontenele, querendo dizer que os salários passarão a ser compatíveis quando entrar dinheiro de patrocínio.

Por enquanto, tudo que a CBB recebeu foram as parcelas mensais pagas pela Nike, na ordem de R$ 100 mil, em um contrato que vai até 2024 e que tem gatilhos por resultados – fora do Mundial, a seleção feminina deixa de poder ganhar um bônus.

A entidade chegou a anunciar ter firmado patrocínios com a Motorola e a Funvic, mas em ambos os casos apenas realizando permutas. O contrato com um "grande patrocinador do esporte brasileiro", como chegou a divulgar a gestão de Guy, nunca foi firmado, ainda que Fontenele garanta que a Caixa Econômica Federal continue conversando sobre essa possibilidade.

A falta de um acordo com o banco estatal, porém, fez a gestão da CBB procurar o Bradesco, que patrocinou a entidade até o ano passado e que estava incomodado de nem ter sido procurado. A Eletrobras, outra antiga patrocinadora, também voltou a conversar. A ideia é que seja feito um contrato para patrocinador master (Bradesco e Caixa se encaixariam neste perfil) e outros pelo menos dois por uma propriedade menor.

Centro de Treinamento – Ainda que a CBB tenha anunciado com pompas que ganharia um novo CT em Campinas, por enquanto o que existe é um projeto no papel. A estrutura do Clube Condórdia de fato está disponível para ser a casa do basquete brasileiro, mas o local não tem hospedagem. A CBB quer construir dormitórios para que as seleções de base possam treinar lá, mas, para isso, precisa de um patrocinador. A ideia é vender os naming rights do CT em troca da obra. Além disso, outras intervenções são necessárias no ginásio.

Por isso, a preparação para as duas Copas Américas, tanto a masculina quanto a feminina, foi toda bancada pela Funvic, que, em troca, exibiu sua marca nos uniformes das seleções. A entidade universitária chegou a ter um projeto de Lei de Incentivo ao Esporte aprovado para construir o CT que serviria à CBB, isso ainda na gestão Carlos Nunes, mas Fontenele garante que o assunto nunca esteve em pauta entre a nova gestão e a Funvic.

Com relação aos técnicos das seleções, nada indica que Cesar Guidetti e Carlos Lima continuem nos cargos depois das campanhas horríveis nas Copas Américas. Entre esta e a próxima semana a gestão avaliará os relatórios feitos por ambos e por seus gerentes (Renato Lamas e Adriana Santos) e decidirá se os mantém ou se vai atrás de novos treinadores. Em novembro, a equipe masculina já tem jogo das Eliminatórias para o Mundial. A feminina não joga tão cedo, mas Fontenele garantiu que um técnico será contratado ainda em 2017.

Base – Depois de muitos anos, a CBB vai voltar a realizar campeonatos brasileiros de clubes de base. Até o ano passado, Carlos Nunes investia nos Brasileiros de Seleções, que em 2017 não serão realizados e voltarão em 2018.

Agora, a prioridade é a competição interclubes, organizada "em parceria" com o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), também bancado pela Lei Agnelo/Piva e que vai bancar todos os torneios. Serão 10, de cinco categorias etárias masculinas e cinco femininas. No sub-14 masculino, primeiro evento fechado, serão 24 times. A expectativa é que, quando consolidados, esses campeonatos custem R$ 1 milhão ao ano cada um.

A última categoria de base masculina continua na mão da Liga Nacional de Basquete (LNB), que mudou a Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB) para que ela seja sub-21 já nesta temporada. No ano que vem, a seleção brasileira vai para o Campeonato Sul-Americano também com um time sub-21.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.