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Olhar Olímpico

COI admite que Rio pode ter comprado votos para ter Olimpíada

Demétrio Vecchioli

11/09/2017 16h46

Reunido a partir desta segunda-feira em Lima (Peru) para sua assembleia anual, o Comitê Olímpico Internacional (COI) não perdeu tempo e já se posicionou com relação à investigação conduzida no Brasil e na França a respeito dos votos do senegalês Lamine Diack. Em nota, pela primeira vez o COI admitiu publicamente que o dirigente senegalês pode ter vendido seus votos. Além do Rio, a candidatura de Tóquio é alvo de denúncia semelhante.

O COI diz ter tomado "medidas imediatas" depois que tiveram início essas denúncias da compra de votos nas eleições para a escolha de cidades-sedes dos Jogos Olímpicos. "Há mais de um ano o COI juntou-se ao inquérito como 'parte interessada'. Logo após a apresentação de provas contra o senhor Lamine Diack, ele perdeu sua participação honorária no COI em novembro de 2015″, lembrou a entidade.

 

À época, o que pesava contra Diack era a acusação de que ele e seu filho, Papa Diack, teriam recebido US$ 1 milhão para acobertar o doping da Rússia. Diack foi presidente da Federação Internacional de Atletismo durante longos 16 anos e só deixou o cargo em 2015.

Agora, porém, as acusações envolvem diretamente o COI. Além de ter recebido US$ 2 milhões de uma empresa do empresário brasileiro Arthur Soares a três dias da escolha do Rio como sede dos Jogos de 2016, uma empresa ligada a Papa Diack recebeu 1,7 milhões de euros à época da vitória de Tóquio pelos Jogos de 2020.

Em reportagem exibida no domingo, no Fantástico, Jean-Yves Lourgouilloux, procurador francês responsável pela investigação a respeito da suposta compra de votos pelo Rio, contou que nas duas ocasiões, Diack foi a uma loja chique de Paris e comprou diversos relógios de luxo.

"Todos os pagamentos são seguidos de compras enormes de relógios de luxo e joias de luxo. Investigamos que membros do COI receberam presentes de Lamine Diack. O nome de Lamine Diack aparece ligado a várias transações", disse Lourgouilloux, refutando a tese de que os votos comprados por Diack seriam apenas africanos. "Não podemos dizer que todos os votos africanos estão corrompidos, mas nem que apenas votos africanos foram comprados."

Com cada vez mais indícios de que Diack não teria sido o único a vender seus votos, o COI não pôde se calar. "A credibilidade é um dos três pilares da Agenda Olímpica 2020, o roteiro estratégico para o futuro do Movimento Olímpico. Como qualquer outra organização, o COI não será imune a nenhuma infração, mas fortalecemos significativamente a prevenção e o sistema de sanção", garantiu o órgão.

 

Além disso, a Comissão de Ética do COI pediu aos seus advogados brasileiros que entrem em contato com as autoridades judiciais brasileiras para solicitar informações a respeito da investigação contra Nuzman. "A Comissão de Ética do COI está acompanhando esse assunto. Quando provas forem fornecidas, agiremos", encerrou o COI.

Por ter tido seus passaportes retidos pela Polícia Federal, Nuzman não pôde viajar até a assembleia do COI, que irá referendar a escolha de Los Angeles como sede dos Jogos de 2028 e de Paris como sede em 2024. Como mostrou o Olhar Olímpico, Nuzman chegou a ter uma apresentação agendada para a assembleia, sobre a Rio-2016, mas ela foi cancelada antes mesmo da operação da PF.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.