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Olhar Olímpico

Senegalês também é acusado de corrupção por Tóquio-2020 e Mundiais

Demétrio Vecchioli

05/09/2017 09h54

Corromper o senegalês Lamine Diack para ganhar o direito de sediar uma grande competição pode não ser exclusividade do Brasil. Enquanto por aqui o Ministério Público Federal (MPF) denuncia que o dinheiro do esquema de Sérgio Cabral chegou até o Diack para comprar votos africanos pela Rio-2016, autoridades de Japão e Estados Unidos também investigam se crimes semelhantes não ocorreram para que Tóquio fosse escolhida sede da próxima Olimpíada e Eugene ganhasse o direito de sediar o Mundial de Atletismo de 2021.

Nos Estados Unidos, o caso está com o FBI. As investigações, assim como as relativas ao Rio, também tiveram origem na França, mas tiveram um empurrãozinho a mais: a soma de fatos estranhos que levaram à "vitória" de Eugene. É que a cidade, onde fica a sede da Nike, ganhou o direito de sediar o Mundial de 2021 sem que houvesse um pleito.

A decisão veio de cima para baixo e contou com o apoio de Diack, então presidente da IAAF, e de Sebastian Coe, homem-forte dos Jogos de Londres e que viria a ser eleito depois para substituir Diack. À época, ele era embaixador da Nike, que tem em Eugene a sua casa, recebendo 100 mil libras ao ano pelo serviço. Também membro de um comitê da IAAF, ele teria feito lobby pela escolha, como mostram e-mails obtidos e publicados pela BBC – o que ele nega. Gotemburgo, na Suécia, também queria o Mundial, mas foi completamente ignorada.

No caso de Tóquio, as investigações caminham em duas frentes. Uma delas foi apontada pelo The Guardian em maio do ano passado. O jornal britânico relatou que o Comitê de Candidatura de Tóquio pagou US$ 2 milhões para uma empresa de consultoria de Ian Tan Tong Han, que por sua vez é próximo de Papa Massata Diack, filho do ex-presidente da IAAF e então consultor de marketing da entidade.

Os organizadores dos Jogos de 2020 negam as acusações e dizem que o pagamento foi de fato para uma consultoria. Mas os procuradores franceses estranham que a contratação tenha sido tão perto da escolha de Tóquio, em 2013.

A outra investigação envolve a multinacional japonesa Canon, que acertou um patrocínio de US$ 5 milhões à IAAF também meses antes da eleição do COI. Papa Diack foi gravado em investigação da Agência Mundial Antidoping (Wada) falando com dirigentes turcos e explicando que não apoiaria a candidatura de Istambul porque a Turquia não levou patrocinador novo à IAAF. O comitê Tóquio-2020 também nega a acusação.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.