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Olhar Olímpico

Nuzman entrega passaporte russo vencido e fica impedido de viajar

Demétrio Vecchioli

05/09/2017 13h17

Buda Mendes/Getty Images

Se o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo del Nero, não deixa o país com medo de ser preso no exterior, o dirigente máximo do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, agora não poderá mais sair do Brasil nem se quiser. Nesta terça-feira, ele teve que entregar seus passaportes à Justiça enquanto é investigado pelo pagamento de propina na compra de voto para que o Rio fosse escolhido sede da Olimpíada de 2016.

"Seus passaportes" porque, além do brasileiro, Nuzman tinha também um passaporte russo e um diplomático, concedido pelo fato de ser presidente do Comitê Rio-2016. Pelo que apurou o Olhar Olímpico, o dirigente do COB recebeu o documento russo há cerca de um ano e meio, em 2015.

A justificativa dos russos era dar um agrado ao brasileiro que teria antepassados russos. O passaporte tinha validade de apenas um ano, nunca teria sido usado e também não foi renovado. Entregue nesta terça-feira à Polícia Federal, ele já estava vencido há cerca de seis meses.

A PF tomou conhecimento desse passaporte até então oculto a partir do depoimento prestado ao ministério público da França por Eric Maleson, ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo e antigo desafeto de Nuzman. Foi Maleson que procurou o MP francês para dar a dica sobre a possibilidade de pagamento por votos africanos e aproveitou para denunciar que Nuzman teria recebido o passaporte russo em troca de votar em Sochi para receber os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 – o processo eleitoral aconteceu em julho de 2007, às vésperas do Pan do Rio. A tese de Maleson é que Nuzman usaria esse passaporte para fugir do país.

Seja com passaporte brasileiro, passaporte russo ou mesmo RG, o fato é que Nuzman está proibido de deixar o Brasil. O procedimento é de praxe em investigações relacionadas à Lava-Jato.

A operação Unfair Play, deflagrada pela Polícia Federal nesta manhã, com direito a buscas e apreensões na casa de Nuzman e na sede do COB, veio em péssima hora para o dirigente, que também é presidente do Comitê Organizador da Rio-2016. É que na semana que vem ele faria uma importante viagem, para Lima, no Peru, onde o Comitê Olímpico Internacional vai realizar sua assembleia geral.

Em Lima deveriam ser escolhidas as sedes das duas próximas Olimpíadas, mas a decisão já está tomada e só será referendada: Paris em 2024 e Los Angeles em 2028. Inicialmente Nuzman falaria a respeito da Rio-2016, mas a apresentação foi cancelada há cerca de um mês.

Ainda assim, serão cinco dias de eventos e discussões, nos quais Nuzman não estará presente nem mesmo para se explicar. Ele também perde a chance de tratar com o comitê internacional a respeito de um socorro para o Co Rio-2016, que ainda deve cerca de R$ 100 milhões. Cabe ao COI acionar, quando bem entender, a garantia do Comitê Rio-2016: ou seja: cobrar que os governos estadual e federal arquem com o prejuízo. A expectativa era que, antes disso, o COI oferecesse uma ajuda extra neste encontro em Lima.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.