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Olhar Olímpico

Delator de Nuzman, dirigente afastado pede que COI intervenha no COB

Demétrio Vecchioli

05/09/2017 17h44

Quando atleta, Eric foi o primeiro brasileiro a competir no bobsld nos Jogos Olímpicos de Inverno (Ira Wyman/Folhapress, de 1997)

Cinco anos depois de ser afastado da presidência da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), Eric Maleson reapareceu. Acusado de gestão temerária, falsificação de documentos e desvio de verbas – o que ele nega -, o ex-dirigente foi o responsável por denunciar ao Ministério Público da França que Carlos Arthur Nuzman, seu antigo desafeto, teria comprado o voto do senegalês Lamine Diack na escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Agora, aproveita o momento para pedir que o Comitê Olímpico do Brasil (COB) sofra intervenção.

Vivendo em Boston, Maleson teve quatro conversas telefônica com o Olhar Olímpico durante esta terça-feira, nas quais se negou a detalhar se chegou a apresentar a denúncia levada ao MP da França também às autoridades brasileiras. "Não posso entrar em detalhes sobre o que está sendo investigado", afirmou diversas vezes.

De acordo com documento remetido pelos franceses ao Ministério Público Federal brasileiro, Maleson se apresentou voluntariamente em março de 2016 informando que desejava "testemunhar perante a justiça francesa sobre fatos relativos à compra de votos africanos pela estrutura que apoiava a candidatura do Rio".

Ouvido em junho do ano passado, contou que em julho de 2009 Nuzman e Ruy Cesar Miranda Reis, então responsável na prefeitura do Rio pela campanha, foram até a Nigéria para apresentar a candidatura carioca aos países africanos. Meses depois, no Rio, Ruy teria indicado a Maleson que "o encontro tinha se passado bem e lhe tinha feito compreender que o dinheiro tinha sido pago".

A partir dessa dica, os franceses, que já investigavam Diack por corrupção para esconder o doping no esporte russo, passaram a rastrear contas bancárias ligadas ao dirigente senegalês e encontraram as conexões com Sérgio Cabral e Arthur Soares, o "Rei Arthur", que também foram foram alvos da operação desta terça-feira da Polícia Federal. De acordo com o MPF, Diack recebeu US$ 2 milhões de uma empresa de Arthur Soares.

Maleson, que ficou 13 anos à frente da CBDG, disse que até votou em Nuzman na primeira eleição da qual participou, mas passado o Pan de 2007 notou que o COB havia se tornado um "balcão de negócios". Em 2008, ele se ausentou na eleição que mais uma vez reelegeu Nuzman, e, em 2012, foi o único a votar contra o dirigente agora investigado.

Questionado sobre o motivo de nunca ter exposto publicamente o que sabia, Maleson alegou que a imprensa não tem força e culpou o PT. "Quem tava no comando do Brasil era o PT, com o Lula e a Dilma. Como pode ter justiça se o comando tem essas pessoas? Eu escrevi cartas para o Ministério do Esporte, mas não deu em nada", alegou, se negando a revelar o conteúdo dessas cartas.

Desde 2012, pelo menos, Eric vem pedindo intervenção no COB. Após ser o único voto contrário a Nuzman na eleição de 2012, o então dirigente dos esportes no gelo apelou à presidente Dilma e ao ministro Aldo Rebelo para que interviessem. À época, disse ao UOL: "Estou sendo perseguido porque não quero fazer certas coisas que outros fazem".

No ano seguinte, a Justiça determinaria nova e definitiva intervenção na CBDG, que estava desde 2009 sem receber verbas federais. Entre as acusações contra Maleson, a de falsificar documentos e gestão temerária. Além disso, os clubes que o elegiam eram, na verdade, entidades de fachada. Ele nega todas as acusações e diz que a Justiça vai provar que foi vítima de perseguição. "Paguei um preço caro, muito caro, pela minha atitude de não compartilhar, não comungar com essa sujeira toda"

Desde então, ele procurou diversos dirigentes do COI pedindo uma intervenção no COB. Nesta terça, fez isso novamente, enviando fax à entidade baseada na Suíça. "O COB tá na mão de bandido. Isso já está mais do que comprovado. O Nuzman transformou o COB em balcão de negócios dele. Dele pessoal. O COB é um balcão de negócios ilícitos. E quem está pagando por isso são os atletas, as confederações. Está mais do que comprovado que precisa haver uma intervenção no COB. Acho que já está tarde. Esse é um bom momento agora. Tem que limpar a casa."

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.