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Olhar Olímpico

Érika vence rival 'imbatível', é bronze e vai ao pódio pela 4ª vez seguida

Demétrio Vecchioli

29/08/2017 12h02

Crédito: AFP

O segundo dia do Mundial de Judô não teve Hino Nacional Brasileiro, mas teve Aquarela do Brasil, o que dá praticamente na mesma. Érika Miranda foi tirada da briga pelo ouro ao perder para uma japonesa nas quartas de final, mas conseguiu dar a volta por cima e e chegou à medalha em Budapeste vencendo a atual campeã olímpica, a kosovar Majlinda Kelmendi, que chegou à Hungria como imbatível. Em homenagem à brasileira, os organizadores botaram a famosa música de Ari Barroso para tocar na Budapeste Arena.

Número 1 do ranking mundial, Kelmendi não perdia uma luta desde outubro de 2015 – exatamente para Érika – e, nos últimos quatro anos e meio, só havia ficado fora do pódio em um evento, em 2015. Nesta terça, porém, ela primeiro caiu na semifinal diante da japonesa Ai Shishime e, depois, parou em Érika.

Na luta pela medalha entre as duas primeiras do ranking mundial, conforme esperado, foi equilibrada. A brasileira demonstrou ter estudado bastante a rival e soube se defender bem. A 50 segundos do fim, conseguiu um wazari, muito perto de um ippon, e ficou em vantagem. Como ainda não tinha punições, a brasileira pôde abusar da falta de combatividade, evitando a luta. Até recebeu dois shidôs, mas a medalha já era dela.

O resultado foi bastante criticado pela transmissão oficial da Federação Internacional de Judô (IJF), com o narrador e comentarista concordando que Érika evitou a luta o tempo todo e deveria ter recebido três shidôs, o que a eliminaria da luta.

(Crédito: AP)

A medalha é a quarta seguida de Érika em Mundiais. Ela foi prata no Rio, em 2013, perdendo exatamente para Kelmendi – que, à época, havia acabado de receber autorização para competir por Kosovo – e, depois, ganhou o bronze em 2014 (na Rússia) e 2015 (no Cazaquistão). Na Olimpíada, porém, a brasileira perdeu para a disputa do bronze para a japonesa Nakamura.

Em Budapeste, novamente Érika teve uma japonesa como algoz, desta vez nas quartas de final: Natsumi Tsunoda. Foi a 17ª derrota dela para judocas japonesas desde 2009 (quando começa o banco de dados do Judô Base), contra só duas vitórias.

Mas, na repescagem, a brasileira teve pela frente duas kosovares. Primeiro Distria Krasniki, a quem venceu com um ippon, depois Kelmendi, A disputa pelo ouro teve Japão contra Japão, com vitória de Ai Shishimi, algoz também de Sarah Menezes, sobre Tsunoda.

MAIS BRASIL – Sarah Menezes, aliás, também não tem bom retrospecto contra japonesas – longe disso. Na categoria até 48kg, desde 2009, ela teve 16 derrotas e venceu seis vezes em que enfrentou japonesas. Agora em uma categoria acima, até 52kg, não foi diferente. A piauiense estreou com vitoria contra a alemã Nieke Nordmeyer, mas foi eliminada por ippon pela promissora Shishime, de 23 anos.

De qualquer forma, era baixa a expectativa por um bom resultado para Sarah nesta sua primeira temporada na nova categoria, lutando contra atletas mais fortes do que ela estava acostumada. Ela só foi convocada porque uma vaga foi aberta com a lesão de Mariana Silva, atleta de outra categoria, e a CBJ furou a final para Sarah, uma vez que a campeã olímpica é só a terceira brasileira no ranking da categoria, atrás de Jéssica Pereira.

Já Charles Chibana (até 66kg) voltou a fazer campanha decepcionante. Ele estreou vencendo Azabat Mukanov, do Cazaquistão, mas foi derrotado no Golden Score por Kilian Le Blouch, da França, que é apenas o número 60 do ranking mundial. Apesar de ter bons resultados no Circuito Mundial, ele vinha de derrotas na estreia no Mundial passado, em 2015, e nos Jogos do Rio, sempre para rivais menos cotados.

Na segunda, o Brasil havia feito campanha ruim. Stephanie Arissa, estreante em Mundiais, deu azar no sorteio da chave e foi batida na segunda rodada pela japonesa Funa Tonaki, que viria a ser campeã mundial. Tonaki e Arissa são colegas de treino em uma faculdade no Japão, onde a brasileira nasceu e foi criada – ela é filha de pais brasileiros imigrantes.

Entre os homens, Eric Takabatake perdeu de um rival do Cazaquistão e Phelipe Pelim para um adversário do Uzbequistão. Nenhum dos dois rivais chegou ao pódio.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.