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Olhar Olímpico

Dois anos após medalha, pentatlo não tem dinheiro para disputar Mundial

Demétrio Vecchioli

24/08/2017 04h00

(Felipe Barra/ Ministério da Defesa)

O Mundial de Pentatlo Moderno vai até a próxima terça-feira, no Cairo, mas o Brasil já tem uma certeza: não vai ganhar nenhuma medalha. Depois de subir ao pódio nas edições de 2013 e 2015 com Yane Marques, desta vez o país sequer enviou representantes para a competição. A explicação é financeira: a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM) não tem dinheiro.

E não é só para o Mundial. Não há verba para disputar o Campeonato Sul-Americano, o Pan-Americano ou qualquer etapa da Copa do Mundo. Ou seja: os brasileiros só competem internacionalmente se pagarem do próprio bolso. E pior ainda é o cenário nacional, porque até agora a temporada só teve um evento, um Campeonato Paulista, e existe o risco de nem o Campeonato Brasileiro ser realizado. De novo: não há dinheiro.

"O nosso planejamento atual de curto prazo é a sobrevivência. Não quero ser o responsável por enterrar a confederação", diz o presidente da CBPM, Helio Meirelles, que não tem um plano para tirar a entidade que ele garante que estar tão afundada quanto outras entidades olímpicas. "Ainda estamos com a cabeça para fora da água", argumenta.

Segundo ele, a prioridade é manter a confederação respirando para continuar tendo acesso aos recursos da Lei Agnelo/Piva, que deve colocar R$ 2,3 milhões nos caixas da CBPM em 2017. "A Lei Piva é nosso sangue. Se nós tivermos algum problema em prestação de contas, ficaríamos numa situação muito complicada. Tivemos que fazer um ajuste drástico no nosso orçamento para manter a confederação sobrevivendo. Temos um efetivo mínimo, com quatro funcionários e um mensageiro", alega.

Mesmo a visibilidade das conquistas de Yane, medalhista de bronze na Olimpíada de Londres e porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de abertura da Rio-2016, não trouxe patrocinadores à confederação. Com a pernambucana em vias de se aposentar (ela é secretária de esportes em Recife e não competiu esse ano), o único fruto da "era Yane" é a existência de quatro núcleos de formação (no Rio, em Resende, Recife e Santos), que consomem o grosso do orçamento.

Esportivamente, o legado é mínimo. De acordo com Meirelles, a própria comissão técnica da confederação admitiu que, se fossem ao Mundial, os brasileiros não teriam chances de chegar às finais (entre os 24 melhores). E nada indica que o cenário vai mudar, numa modalidade praticada, nas contas da confederação, por cerca de 120 atletas, apenas.

Esses poucos esportistas, porém, não têm oportunidade de competir e evoluir. Passados quase oito meses completos de 2017, a única competição da temporada foi o Campeonato Paulista, disputado em abril, em Santos, com atletas também de outros estados. No calendário, há a previsão de um Campeonato Brasileiro em dezembro, mas sua realização é incerta. "Estou tentando encontrar verba", garante o dirigente.

Internacionalmente, o Brasil teve dois representantes na primeira etapa da Copa do Mundo, graças a uma sobra do orçamento de 2016. Depois, só quem pagou do bolso disputou o Campeonato Pan-Americano, nos EUA, e assim também será com o Campeonato Sul-Americano, na Bolívia. Os investimentos são necessários para quem quer ter/manter a Bolsa Atleta Internacional.

Olimpíada o Brasil deve demorar a disputar de novo. "Do jeito que a situação está, não dá para uma confederação pequena ter atleta em Olimpíada", reclama Meirelles, dizendo que não é só a entidade dele que passa por problemas – mas só o pentatlo moderno, ao menos até agora, deixou de enviar atletas para o seu Mundial.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.