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Olhar Olímpico

Erica termina em 4º na marcha e dispara: 'Árbitros decidiram que eu não ia ganhar'

Demétrio Vecchioli

13/08/2017 09h52

AFP PHOTO / CHRIS J RATCLIFFE

Principal esperança de medalha para o Brasil no Mundial de Atletismo, Erica Sena não conseguiu levar o país pela primeira vez ao pódio em Londres. A pernambucana correu no pelotão das líderes até quando faltava uma volta para final da marcha atlética 20km, disputada de frente ao Palácio de Buckingham, mas não conseguiu acompanhar o ritmo das líderes nos últimos dois quilômetros. Terminou na quarta colocação, com novo recorde sul-americano.

Após a prova, ela reclamou da postura dos árbitros, que deram quatro advertências a ela em um trecho de um quilômetro. Pelas regras da disciplina, o atleta não pode tirar os dois pés do chão simultaneamente – não pode correr, só marchar. Quando três advertências são acumuladas, o atleta é desclassificado, o que acabou não acontecendo com ela.

"Na marcha tem essas regras. às vezes os árbitros decidem quem vai chegar na frente. Dessa vez eles decidiram que eu não ia chegar. Levei quatro plaquinhas faltando três quilômetros. Isso mexe com você, você não pode dar seu máximo porque acaba tendo o risco de ser desclassificada. Eu achava que eu estava fora, mas pode ser que nem todas as advertências tenham ido para o quadro", argumentou Erica.

Mais cedo, o marido e treinador dela, o equatoriano Andrés Chocho, foi desclassificado da prova de 50km e também saiu protestando contra os árbitros. Uma atleta que estavam correndo lado a lado com Erica quando ela recebeu as advertências acabou desclassificada: a chinesa Xiuzhi Lyu.

De qualquer forma, o resultado é o melhor da história do Brasil nas provas de marcha atlética, levando em consideração também os Jogos Olímpicos. Erica já vinha de um sexto lugar no Mundial de 2015, disputado em Pequim, e da sétima colocação na Rio-2016. No ano passado, foi medalhista de bronze em outro evento importante, a Copa do Mundo por equipes – terminou em quarto, mas uma chinesa depois foi pega no doping.

Além disso, é também o melhor resultado do Brasil no Mundial de Londres até aqui. Antes, o país havia conquistados três sétimos lugares, com o revezamento 4x100m feminino, Rosângela Santos (nos 100m) e Thiago André (nos 800m). A delegação brasileira ainda compete mais duas vezes neste domingo, como Caio Bonfim, logo mais, nos 20km da marcha, e com Andressa de Morais na final dos disco.

Erica era a principal esperança de medalha do Brasil no Mundial, uma vez que Thiago Braz, campeão olímpico do salto com vara, e Núbia Soares, quarta do ranking mundial do salto tripolo, foram cortados. A pernambucana é primeira colocada do Circuito Mundial de Marcha e, no ano passado, bateu o recorde sul-americano, melhorado agora.

Como esperado, ela brigou pela medalha. Mas ficou para trás quando as principais rivais aumentaram o passo. Em disputa emocionante, o ouro foi para a chinesa Jiayu Yang, que venceu a mexicana Maria Guadalupe Gonzalez, medalhista de prata. A italiana Antonella Palmisano ficou com o bronze. Erica terminou a 0s23 da terceira colocação, com 1min26s59.

Nos 50km – Mais cedo, Nair Rosa foi desclassificada na prova de 50km, disputada pela primeira vez em Mundiais. Só há menos de um mês, no último dia 23 de julho, é que a IAAF definiu que equipararia o número de provas masculinas e femininas em Londres, atendendo a uma demanda da norte-americana Erin Talcott, que no ano passado correu o Mundial por Equipes junto com os homens.

Como pouquíssimas mulheres fizeram provas de 50km recentemente, haja visto que a IAAF não a reconhecia até o ano passado, só oito atletas foram convidadas para competir no Mundial, incluindo Nair, que disputou uma prova no Brasil contra uma única rival (que foi desclassificada) e outra no Peru contra somente uma adversária, também.

Para garantir um nível técnico mínimo para a prova, a IAAF definiu que só valeriam os resultados de quem entrasse na última volta, após 48km, antes de 4h17min de prova. Nair da Rosa, que tinha 4h39min como melhor tempo da carreira, não conseguiu o feito. Ela até terminou os 50km, mas seu resultado não é considerado para fins estatísticos.

A vitória ficou com a portuguesa Inês Henriques, que bateu o recorde mundial pela segunda vez no ano: 4h05min56s. O pódio foi completado por duas jovens chinesas: Hang Yin e Shiqing Yang.

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.