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Olhar Olímpico

Prova com só seis inscritas vira maior chance de medalha para o Brasil

Demétrio Vecchioli

12/08/2017 04h00

(Divulgação/Comitê Olímpico Português)

Aos 37 anos, Nair da Rosa nunca disputou um Campeonato Mundial ou uma Olimpíada. Na verdade, nunca teve resultados expressivos nem em nível nacional. Mesmo assim, depende só dela para obter, neste domingo, último dia do Mundial de Londres, o melhor resultado do Brasil no Mundial de Londres até então. É que a prova dela, por incrível que pareça, tem só seis atletas inscritas. E há um risco real de nenhuma delas conseguir chegar ao final. De qualquer forma, os resultados não valerão para o quadro de medalhas.

Trata-se da prova de 50 quilômetros da marcha atlética, que será disputada pela primeira vez em um Campeonato Mundial e que nunca constou no programa olímpico. Por isso, não era praticada em eventos nacionais, nem no Brasil nem em qualquer outro lugar do mundo. No ano passado, porém, uma prova foi disputada na China, uma das nações mais tradicionais na marcha atlética, e uma norte-americana, Erin Talcot, foi incluída no time dos Estados Unidos que disputou o Mundial por Equipes.

Ao mesmo tempo, o interesse do Comitê Olímpico Internacional (COI) em equiparar as provas masculinas das femininas já para os Jogos de Tóquio incentivou outros países a começarem a organizar os 50km para mulheres. Foi o caso do Brasil, que pela primeira vez teve a prova na Copa Brasil de Marcha Atlética, em março. Nair só teve uma rival, Edilaine Maria Vidotto Rech, que não completou. Ao vencer o evento, ela se classificou para a Copa Pan-Americana, disputada em Lima (Peru), onde foi campeã com 4min39s28.

A IAAF, porém, não recomendou a inclusão dos 50km da marcha para mulheres para o COI – pelo contrário, sugeriu a retirada da prova masculina. Mas já era tarde. O movimento havia se iniciado, com a portuguesa Inês Henriques (foto) completando a distância em 4h08min26s e batendo o recorde mundial. Outras provas foram organizadas nos Estados Unidos, na Espanha e na China.

A federação internacional reconheceu o esforço e, há menos de um mês, só no último dia 23, decidiu que o Mundial de Londres teria a prova, com largada junto da dos homens, às 7h30 de domingo (3h30 no Brasil). A marcha será em um circuito de 2km em frente ao Palácio de Buckingham, com as provas de 20km à tarde.

Oito atletas foram convidadas, incluindo Nair, catarinense que antes disputava provas de 20km (distância olímpica), sem nunca ter sido sequer campeã nacional. O melhor tempo dela, porém, pode não ser suficiente não só para chegar ao pódio, mas para completar a prova. É que a IAAF garantiu premiação em dinheiro igual à de qualquer outra disputa do Mundial, mas botou um limite: só pode entrar na última das 20 voltas quem tiver feito as 19 primeiras em 4h17min. Ou seja: que seja capaz de terminar a prova em 4h30min, nove minutos abaixo do recorde brasileiro.

Além de Nair, estão inscritas duas chinesas, a portuguesa Henriques e duas norte-americanas. Das seis, só a brasileira precisará melhorar seu recorde pessoal para poder completar a prova. "Temos que levar em consideração que essa foi uma decisão de última hora, baseada no pedido de um pequeno grupo de atletas", comentou o presidente da IAAF, Sebastian Coe. Para as próximas edições do Mundial, a entidade ainda vai estudar se haverá número suficiente de atletas e países legitimamente interessados.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.