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Olhar Olímpico

Van Niekerk: o sul-africano que corre brincando e pode mudar herança de Bolt

Demétrio Vecchioli

07/08/2017 17h08

(AP Photo/Tim Ireland)

Se você tem a sensação de que já viu essa imagem acima antes, é porque você viu Wayde van Niekerk e pensou em Usain Bolt. Ao cruzar a linha de chegada das eliminatórias dos 200m nesta segunda-feira brincando como adversário, como se passeasse em um parque de Londres, o sul-africano mostrou que, para ele, tal como para Bolt, correr é diversão. Não à toa, é Van Niekerk é o grande favorito para ocupar o posto de maior nome do atletismo, que será aberto pelo jamaicano no domingo, quando fizer sua última corrida.

Van Niekerk chegou para mudar o eixo das coisas. Campeão mundial, ouro olímpico e recordista mundial dos 400m rasos, o corredor de 25 anos tem tudo para se tornar bicampeão nesta terça, quando a final dos 400m fechará o programa do dia no Estádio Olímpico de Londres. Domingo, nas semifinais, Van Niekerk não forçou e avançou com o terceiro tempo. Nesta segunda, repetiu a estratégia e sobrou nos 200m.

Esse é, aliás, o grande trunfo do sul-africano para se tonar o grande astro do atletismo: ser capaz de ser campeão tanto nos 200m quanto nos 400m, algo que não acontece desde a Olimpíada de Atlanta, há mais de duas décadas, quando o norte-americano Michael Johnson viveu seu auge. Desde então, e muito graças a Usain Bolt, a prova de 200m, intermediária entre os 100m e os 400m, foi dos velocistas. Van Niekerk está pronto para mudar esse padrão.

Com Usain Bolt e Justin Gatlin fora dos 200m, a prova terá um campeão diferente pela primeira vez em 14 anos. E Van Niekerk é o grande favorito para ocupar essa lacuna. Na fase eliminatória, correu brincando e fez o quarto tempo geral: 20s16. Um nada para quem tem 19s84 na temporada. Para ajudar, seu grande amigo e principal concorrente ao ouro,  Isaac Makwala, de Botsuana, não apareceu para correr os 200m, supostamente prejudicado por um desarranjo intestinal.

 

Van Niekerk, aliás, pode obrigar o atletismo a rever seu calendário. Com os 200m dominados por velocistas nos últimos anos, a federação internacional (IAAF) não tem se preocupado em marcar os 200m e os 400m para datas distantes, dando descanso para os corredores. Na Rio-2016, por exemplo, as finais das duas provas foram no mesmo dia, com os 400m pela manhã e os 200m à noite. Enquanto isso, Bolt teve dois dias de descanso entre a final dos 100m e a primeira eliminatória dos 200m.

Isso se o sul-africano não quebrar todos os padrões do atletismo e começar a se arriscar também nos 100m em grandes competições. Nível para isso ele tem. Neste ano, correu a distância em 9s94, marca que o deixaria em terceiro no Mundial, à frente exatamente de Bolt. Aliás, Van Niekerk é o primeiro homem a correr os 100m num sub10 (abaixo de 10 segundos), os 200m num sub20 e os 400m num sub44.

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.